Havia uma casa construída entre o Céu e o Inferno. Quatro pessoas moravam lá. Duas iam para o Céu, duas iam para o Inferno. Poderiam elas amar umas às outras, estando umas no Inferno, e outras no Paraíso?
A casa era o purgatório, para onde pecadores e santos voltavam depois de viver suas vidas opostas, Céu e Inferno tomando o café da manhã na mesma mesa. E depois do café, se separavam.
Quando a campainha tocou, a porta se abriu sozinha. O visitante dizia se chamar Ele, e se sentou à mesa ao lado dos santos e dos pecadores. Ordenou que trocassem de lugar por alguns dias. Eles se horrorizaram.
Mas Ele disse, e a palavra Dele era ordem.
No dia seguinte, os santos foram ao Inferno. Mal recebidos, sentiram-se desconfortáveis naquele mundo que não conheciam, e tentaram converter os pecadores, que os mandaram embora. Voltaram a Ele pedindo perdão pelo fracasso.
No mesmo dia, os pecadores foram ao Céu. Incompreendidos, foram condenados à danação eterna, termo que ainda não conheciam. Voltaram a Ele pedindo perdão pelo fracasso.
De volta à casa, Ele ordenou que santos e pecadores se misturassem. Sem se tocarem, os opostos foram obrigados a tolerar-se em silêncio. Por ordem Dele, deram-se as mãos e recitaram a reza dos santos, depois a reza dos pecadores. Então, Ele pediu que tentassem novamente, e a palavra Dele era ordem.
Naquele segundo dia, os santos entraram no Inferno e perceberam que continuavam amando a Deus da mesma maneira, e voltaram a Ele felizes, lhe contando suas descobertas. Da mesma maneira, os pecadores foram ao Céu e aprenderam a rezar, ouvindo pela primeira vez a palavra de Deus, que apesar do que diziam os santos, não pregava aquele ódio todo que tanto ouviam falar, e voltaram a Ele felizes, lhe contando suas descobertas.
Pela terceira vez, agora satisfeito, Ele se sentou à mesa e viu que santos e pecadores não mais se repudiavam. Se não se amassem, ao menos se compreendiam e respeitavam, e por ora, isso era suficiente.