A mesma estrada leva para lugares diferentes. Seria idiotice pensar que existe um único destino possível, porque mesmo em estradas retas pode haver uma curva inesperada no fim da neblina ou bifurcações ali, logo adiante, depois das colinas.
Mesmo em estradas retas, eu e você podemos nos separar um dia e tomar caminhos diferentes — há chances consideráveis de eu e você nos perdermos, de nunca mais nos encontrarmos. Porque a mesma estrada leva para lugares diferentes, e as suas decisões podem te afastar de mim, te levar pra longe.
Há chances consideráveis de, no futuro, eu estar a milhares de quilômetros de você — você não me ouviria nem se eu gritasse, porque minha voz se perderia na neblina ou atrás das colinas. A mesma estrada, ainda que a mesma, pode parecer diferente para mim e para você: pode não ter o mesmo cheiro, nem a mesma textura sob nossos pés. Pode ser estranha e desconfortável para uns, familiar e aconchegante para outros. Pode desnortear os indecisos e desatentos, pode confundir quem está perdido. Pode dar um rumo para quem precisa de um guia.
Mas a mesma estrada vai continuar levando para lugares diferentes, e tudo depende do que eu sinto, do que eu faço e do que eu sou agora — tudo depende das relações que eu construo hoje e de quem quero levar comigo amanhã. Tudo depende do passo que dei ontem, mas ainda mais do passo que vou dar em seguida.
Quando eu era criança, meu pai me mostrou que o caminho da esquerda levava para o Rio de Janeiro, e que se eu seguisse o da direita, acabaria em Curitiba.
Naquela época, eu achei que tudo se tratava apenas de direção, mapas, Norte e Sul, mas hoje eu sei que é muito mais que isso. Meu pai me ensinou sobre caminhos, encontros e desencontros, sobre acertos e erros, chegadas e despedidas, sobre escolhas, e embora a mesma estrada leve para lugares diferentes, o que me conforta é saber que todos nós acabamos saindo, invariavelmente, sempre do mesmo ponto de partida.