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Uma análise da música "Work song" de Hozier

  • Foto do escritor: Katherine Carvalho
    Katherine Carvalho
  • 14 de dez. de 2024
  • 6 min de leitura
Cantor Hozier posando para foto com cabelo solto

Saiu a retrospectiva do Spotify recentemente e eu não fiquei nem um pouco surpresa por ver que Hozier, mais uma vez, figurava no topo da lista dos meus artistas mais ouvidos. Aquele lugar é dele, não adianta. O tempo passa e Hozier continua lá, invicto.


E como acontece todo ano, ver a minha retrospectiva (nem um pouco surpreendente, devo admitir, pois ouço as mesmas músicas todo dia) me deixou um pouco nostálgica. Então a análise de hoje é em homenagem a ele. Junto com Elvis, Dan Reynolds e Benson Boone, ele é o amor da minha vida. Te amo, Hozier. 


Esta análise de “Work song” contém muitas doses de paixão 


Eu tinha 15 anos quando ouvi “Work song” pela primeira vez. Lembro como se fosse ontem: minha irmã chegou enquanto eu assistia novela, disse “achei uma música nova que você vai gostar”, e colocou pra eu ouvir no Youtube. Foi aí que eu me apaixonei pelo Hozier. E desde então, “Work song” é a minha música favorita. Espero que goste desta análise.


Boys workin on empty

Is that the kinda way to face the burning heat?

I just think about my baby

I'm so full of love, I could barely eat


[Tradução]

Garotos trabalhando no vazio

É esse o melhor jeito de enfrentar o calor sufocante?

Eu só penso na minha amada

Estou tão cheio de amor, que nem consigo comer


A primeira estrofe me remete à minha juventude, aos dias que passei praticamente em jejum porque estava de coração partido, e todo mundo sabe que a gente não sente fome quando tá de coração partido. Graças a Deus hoje em dia um coração partido já não me abala desse jeito, mas “Work song” continua tendo o mesmo efeito sobre mim.


É que aqui, logo nos versos iniciais, a gente percebe que o eu-lírico está sofrendo. Talvez não de coração partido, mas de paixão, que pode, muitas vezes, causar os mesmos sintomas. Dá pra ver, pela forma como ele fala, que ele está amando alguém e que esse amor o impede de cumprir tarefas básicas, como comer. Quem nunca, né?


Lembro que teve uma vez, quando eu era bem mais nova, que eu não conseguia fazer absolutamente nada porque estava apaixonada. Não conseguia ler, escrever, estudar direito. Que bizarro, né? Era como se naquela época, eu, literalmente, estivesse trabalhando no vazio, como os meninos dos dois primeiros versos.


Um amor doce 


There's nothing sweeter than my baby

I'd never want once from the cherry tree

Cause my baby's sweet as can be

She give me toothaches just from kissing me


[Tradução]

Não há nada mais doce do que minha amada

Eu nem ao menos quis o fruto da cerejeira

Pois minha amada é tão doce quanto se pode ser

Ela me dá dor nos dentes só de me beijar


Ah, a paixão… um eu-lírico apaixonado, nada de novo sob o sol dos compositores. Só que com Hozier nada é clichê, por mais que pareça ser. Não é apenas um homem apaixonado, é um homem apaixonado e seriamente problemático (você vai ver nas estrofes seguintes). 


Aqui, como sempre acontece nas canções de Hozier, você pode reparar que há uma alusão bíblica na letra da música. Beleza, na Bíblia é uma macieira, e não uma cerejeira, mas e daí, liberdade poética, gente! 


É óbvio, pelo menos pra mim, que o eu-lírico está se referindo à sua amada como uma pessoa pura e doce, que recusou o fruto da cerejeira (no caso, o Fruto Proibido, que fez Eva perder a inocência), e que de tão doce, lhe dá dor nos dentes (cárie rsrs). 


O melhor refrão de todos os tempos


When my time comes around

Lay me gently in the cold dark earth

No grave can hold my body down

I'll crawl home to her


[Tradução]

E quando chegar a minha hora

Me deite gentilmente na terra fria e escura

Nenhum túmulo pode segurar meu corpo no chão

Eu vou rastejar de volta até ela


Uma guinada nos acontecimentos apresenta o ouvinte a um terrível evento: a morte do eu-lírico. Claramente, no refrão, o homem morre e é enterrado, destino comum a quase todos os mortos, mas apesar de não pertencer mais a este mundo, isso não o impede de rastejar de volta até sua amada.


Como um espírito, talvez? Ou apenas em sentido figurado, entenda como quiser. Amores eternos existem de fato, e a morte não separa quem se ama. Se você é espírita, pode interpretar que ele voltou para ela numa reencarnação, ou se acredita em outras coisas, tudo bem também. 


Mas o que me parece é que ele a ama tanto que não aceita a morte como um empecilho: ele quer estar ao lado dela de qualquer jeito. Acho que foi isso que me fez gostar tanto dessa música. “I’ll crawl home to her”. 


Uma estrofe cheia de mistérios


That’s when my baby found me

I was three days on a drunken sin

I woke with her walls around me

Nothing in her room, but an empty crib


[Tradução]

Foi quando meu amor me encontrou

Eu estava há três dias numa bebedeira pecaminosa

Acordei com suas paredes ao meu redor

Nada em seu quarto além de um berço vazio


Retrocedemos um pouco na história. Na estrofe após o primeiro refrão, acompanhamos a trajetória do homem no dia em que se apaixonou por sua amada. E podemos ver que ele não tinha exatamente uma vida regrada, né. 


Pelo que o eu-lírico dá a entender, ele vivia em pecado e ela representou uma salvação em forma de amor (outra referência clara à Bíblia). 


Mas o que me intriga até hoje é esse último verso, a menção que ele faz ao berço. Infelizmente ainda não tenho uma conclusão, mas você pode dar sua opinião nos comentários, se quiser.


Às vezes penso que o berço pode significar a pureza da mulher que o salvou do pecado. Às vezes penso que pode significar algo a mais, como por exemplo, uma perda gestacional ou a morte de um filho ainda criança. Mas não tenho certeza. 


Acho que essa é a beleza das músicas. A gente nunca tem certeza de nada.   


A salvação


And I was burnin up a fever

I didn't care much how long I lived

But I swear I thought I dreamed her

She never asked me once about the wrong I did


[Tradução]

E eu estava queimando de febre

Não me importava muito o quanto vivi

Mas eu juro que pensei que havia sonhado com ela

Ela nunca me perguntou sobre o que fiz de errado


Ela cuidou dele, a gente percebe agora nessa estrofe. Ela o salvou, retirando-o do pecado e cuidou dele enquanto ele ardia em febre. Me parece o tipo de coisa que alguém muito bondoso (e muito puro) faria. 


É por isso que ele a ama. Porque ele é um homem cheio de defeitos, cheio de falhas, completamente humano, e ela, em toda sua pureza, cuida dele e jamais pergunta sobre as coisas que ele fez de errado. 


When my time comes around

Lay me gently in the cold dark earth

No grave can hold my body down

I'll crawl home to her


When my time comes around

Lay me gently in the cold dark earth

No grave can hold my body down

I'll crawl home to her


Nada mais importa


My baby would never fret none

About what my hands and my body done

If the Lord don't forgive me

I'd still have my baby

And my babe would have me


When I was kissing on my baby

And she put her love down soft and sweet

In the low lamp light I was free

Heaven and hell were words to me


[Tradução]

Minha amada nunca se preocupou

Com o que minhas mãos e meu corpo fizeram

Se o Senhor não me perdoar

Eu ainda teria minha amada, e ela me teria


Quando eu estava beijando minha amada

E ela me deu seu amor, tão macio e doce

Sob a luz fraca, eu estava livre

O céu e o inferno viraram apenas palavras para mim


Na última parte antes do fim, a gente percebe que o homem sabe que não é uma pessoa boa. Que cometeu muitos pecados, talvez até crimes, mas que nada disso importa, porque se o Senhor não o perdoar, ele ainda terá sua amada. 


E fica muito claro pra mim que a mulher que ele ama também não se importa com as coisas horríveis que as mãos e o corpo dele fizeram, porque talvez o amor seja isso. Não dessa forma absolutamente problemática, mas algo perto disso. E talvez tenha sido isso que Jesus sentiu por nós tanto tempo atrás.


When my time comes around

Lay me gently in the cold dark earth

No grave can hold my body down

I'll crawl home to her


When my time comes around

Lay me gently in the cold dark earth

No grave can hold my body down

I'll crawl home to her


E depois disso tudo, espero que você tenha absorvido pelo menos 1% da intensidade da letra dessa música. Espero que tenha conseguido sentir um pouco do que eu sinto ao escutar “Work song”, mesmo depois de quase 10 anos. 


Eu não sei como finalizar esse texto, porque nem todas as frases bonitas do mundo parecem ser suficientes pra descrever essa música, mas posso tentar encerrar não com palavras, mas com um vídeo. 


Bônus: o melhor clipe do mundo


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