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  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Carta para minha filha

Essa é uma carta para a filha que eu ainda não tenho.


Essa é uma carta para a menina que fui um dia, é a carta que eu gostaria de ter recebido quando era pequena. Porque ninguém me avisou, ninguém me ensinou — tudo que eu sei, eu descobri sozinha —, então, filha, essa carta é pra você.


Você nascerá num mundo injusto. É melhor que saiba assim, rápido, logo de cara, como quem arranca um band-aid antes que dê tempo de doer. Vão julgar você por qualquer coisa: vão te julgar se você chora muito, se você demora a pronunciar suas primeiras palavras, a dar seus primeiros passos.


Vão ditar com quais brinquedos você pode brincar, que roupas você pode vestir, de que cores você pode gostar. Vão dizer como você deve usar seu cabelo, o que você pode ou não falar em voz alta. Vão escolher com quem você se relaciona, quem você namora, quem você ama.


Vão escolher sua profissão por você. Vão dizer quais caminhos você pode ou não tomar. Vão decidir em que momento você deve se casar, ter filhos, parar de trabalhar. Vão decidir toda sua vida por você.


Eu sinto muito, filha, por você ter nascido mulher. O mundo é injusto só comigo e com você. Mas você vai aprender que, apesar do que dizem, você tem o direito de dizer não. Você tem o direito de gritar, de se espernear, de reivindicar, de revolucionar. Você tem o direito de não escutar ninguém.


Então fale. Seja o extremo oposto do que queriam que você fosse, trilhe o caminho que você desejar trilhar. Eu vou te amar de qualquer jeito, e como mãe, te amarei inteira, ao contrário dos outros, que querem te ver em pedaços.


Fale bem alto, deixe os outros desconfortáveis, ponha-os em seus devidos lugares. Se te derrubarem, eu te ajudo a levantar. E se mandarem você se calar, não obedeça — grite mais alto, e depois eu grito com você.

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Por Katherine Carvalho

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