Aprendi na terapia que o meu desconforto não vale o conforto de ninguém

Eu nunca gostei de magoar ninguém. Me dá uma coisa ruim pensar que minhas atitudes podem causar dor a uma pessoa, principalmente se essa pessoa for alguém que eu amo. E é nessa coisa de não-gostar-de-magoar-ninguém que às vezes eu me coloco em situações em que quem se magoa sou eu. 

Mas minha psicóloga é ótima e eu aprendi na terapia que meu desconforto não vale o conforto de ninguém. E que eu não preciso, e nem posso, me encaixar num lugar que não me cabe para fazer ou manter alguém feliz. Porque se não está bom pra mim, então não está bom pra ninguém. 

No começo foi difícil. Parecia que era um erro decepcionar as pessoas. Eu dizia “não” quando esperavam que eu dissesse “sim” e me sentia culpada porque não correspondia às expectativas que punham em mim. 

Eu quebrava alguns padrões que haviam imposto e tinha que lidar com os olhares de reprovação de quem impôs os padrões. Eu recusava pedidos de namoro de pessoas que eu não amava e me sentia um lixo por ferir os sentimentos de gente tão legal. 

Mas o que se pode fazer? Aceitar tudo calada, mesmo que as coisas me machuquem? Seguir padrões, mesmo que eu não concorde? Ficar com alguém que eu não amo apenas para não magoá-lo? É mesmo essa a melhor opção? 

É que cada “sim” que eu dizia pra alguém, era um “não” que eu dizia pra mim. E isso estava me matando por dentro. E na terapia, a gente aprende: a gente acaba partindo corações nessa jornada de autoconhecimento. É normal. E a culpa não é nossa.

Claro que você não vai sair por aí partindo corações a torto e a direito. Existe uma coisinha chamada “responsabilidade afetiva”, mas há um limite tênue entre se preocupar em respeitar os sentimentos de alguém e se prejudicar só para manter alguém confortável a troco do seu próprio conforto. É na terapia que você aprende a reconhecer esse limite.

Um recado da autora: me perdoa? Sei que você está aconchegado aí, mas o meu desconforto não vale o seu conforto

Me perdoa por te machucar. Por te decepcionar. Por jogar um balde de água fria na imagem que você tinha construído de mim. Sei que estava aconchegante e que foi bom enquanto eu correspondia às suas expectativas. Mas minha psicóloga me ensinou que a prioridade sou eu, e na verdade, pensando bem, aqui não está nada confortável pra mim.

Então eu vou embora. Sinto muito por te deixar triste. A única coisa que posso fazer é ser sincera, abordar o assunto com delicadeza, ser carinhosa e pedir perdão, para que a partida seja um pouco menos dolorosa e a despedida não te torture tanto. 

A última coisa que eu quero é te fazer sofrer. Saiba que eu ainda te amo, só não posso ficar. Não mais. Você vai ficar bem, vai doer um tantinho, você vai chorar, mas juro, você vai ficar bem. Você vai ser feliz de novo. E, depois de um tempo, eu prometo, eu também.