![Mulher pedindo silêncio com o dedo na boca](https://static.wixstatic.com/media/41b8a4_07de5ec9473a47d4a19daa8b9e50ac63~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_627,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/41b8a4_07de5ec9473a47d4a19daa8b9e50ac63~mv2.jpg)
Há um limite tênue entre o dito, o não dito e o indizível.
O dito é aquele que sai da boca, que escapa pelos lábios, às vezes contra nossa vontade — é aquele que a gente fala e muitas vezes se arrepende, é aquele que traz alívio depois de colocarmos pra fora. É aquele que precisa ser dito para poder viver em paz, que precisa ser pronunciado, cartas na mesa, pratos limpos.
Quando digo, expurgo meus demônios e purifico a minha alma. O dito machuca, mas também cura; envenena, mas também revive. Dizer, no entanto, nem sempre é a coisa certa, por isso às vezes a gente não diz.
O não dito sufoca — tudo que a gente deixou de dizer em algum momento da vida nos consome aos poucos, corroendo por dentro e estimulando o crescimento de uma pequena célula tumorosa. O não dito causa câncer: a gente morre por todas as coisas que não dizemos.
Você escolhe não dizer e a sua escolha te condena para sempre. O não dito pesa na língua muito mais que o dito, e por isso é difícil escolher qual dos dois é pior. Pesa na língua, para depois pesar no coração. E pesando no coração, pesa no corpo todo, até estarmos todos pesados demais de coisas não ditas.
O indizível é diferente. Entre o dito e o não dito, existe aquilo que a gente nunca, em hipótese alguma, pode dizer em voz alta, para quem quer que seja. Se o dito machuca e o não dito pesa, o indizível mata e tortura. Quem ouve algo indizível, nunca mais esquece, porque morre um pouco por dentro para nunca mais ressuscitar.
Tem dias que sinto muita raiva, e digo coisas quando devia ficar quieta. Tem dias que estou tão triste que engulo tudo que deveria dizer. Mas em nenhum momento pronuncio o indizível, porque o indizível, ao contrário dos outros, não tem volta — e nem cura.
Há uma linha tênue entre o dito, o não dito e o indizível, e é muito provável que você a atravesse muitas vezes durante a vida. Ninguém sabe realmente defini-la com precisão, e está tudo bem errar de vez em quando. Tudo bem dizer quando deveria calar, tudo bem calar quando queria dizer.
Mas o indizível… esse é melhor deixar bem quietinho.
Um recado da autora: não se deixe sufocar pelo não dito
A menos que seja algo indizível.
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