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O dito, o não dito e o indizível

Foto do escritor: Katherine CarvalhoKatherine Carvalho
Mulher pedindo silêncio com o dedo na boca

Há um limite tênue entre o dito, o não dito e o indizível.


O dito é aquele que sai da boca, que escapa pelos lábios, às vezes contra nossa vontade — é aquele que a gente fala e muitas vezes se arrepende, é aquele que traz alívio depois de colocarmos pra fora. É aquele que precisa ser dito para poder viver em paz, que precisa ser pronunciado, cartas na mesa, pratos limpos.


Quando digo, expurgo meus demônios e purifico a minha alma. O dito machuca, mas também cura; envenena, mas também revive. Dizer, no entanto, nem sempre é a coisa certa, por isso às vezes a gente não diz.


O não dito sufoca — tudo que a gente deixou de dizer em algum momento da vida nos consome aos poucos, corroendo por dentro e estimulando o crescimento de uma pequena célula tumorosa. O não dito causa câncer: a gente morre por todas as coisas que não dizemos.


Você escolhe não dizer e a sua escolha te condena para sempre. O não dito pesa na língua muito mais que o dito, e por isso é difícil escolher qual dos dois é pior. Pesa na língua, para depois pesar no coração. E pesando no coração, pesa no corpo todo, até estarmos todos pesados demais de coisas não ditas.


O indizível é diferente. Entre o dito e o não dito, existe aquilo que a gente nunca, em hipótese alguma, pode dizer em voz alta, para quem quer que seja. Se o dito machuca e o não dito pesa, o indizível mata e tortura. Quem ouve algo indizível, nunca mais esquece, porque morre um pouco por dentro para nunca mais ressuscitar.


Tem dias que sinto muita raiva, e digo coisas quando devia ficar quieta. Tem dias que estou tão triste que engulo tudo que deveria dizer. Mas em nenhum momento pronuncio o indizível, porque o indizível, ao contrário dos outros, não tem volta — e nem cura.


Há uma linha tênue entre o dito, o não dito e o indizível, e é muito provável que você a atravesse muitas vezes durante a vida. Ninguém sabe realmente defini-la com precisão, e está tudo bem errar de vez em quando. Tudo bem dizer quando deveria calar, tudo bem calar quando queria dizer.


Mas o indizível… esse é melhor deixar bem quietinho.


Um recado da autora: não se deixe sufocar pelo não dito


A menos que seja algo indizível.

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