Quando duas ondas se encontram
O universo se expande
E estrelas colidem
Não há um espaço no mundo sequer
onde se esconder
dos estilhaços
e dos fragmentos de poeira
Quando eu encontrei você
Houve um momento estranho
Um milésimo de segundo
De catástrofe
Colapso
Calamidade
em que eu achei
que estava tudo perdido
Houve um instante fugaz
Uma ínfima parte de mim
Que soube que era
Desgraça
Destruição
Desastre
Algo definitivamente ruim
Mas então o mundo se repartiu
Em milhões de pedacinhos
Abriu-se um novo céu
Mares que se dividem
E as ondas subitamente se separaram
Cada uma pro seu lado
Eu me vi sem você
Mas quando duas ondas se afastam
Resquícios ainda permanecem
Lembranças insistentes
Incrustadas nas profundezas
E na superfície
É impossível separar
O passado do presente
O antes do depois
O que era eu e o que sou agora
Quando eu me afastei de você
A onda regrediu e ameaçou
me tragar pra baixo
Debater-se para manter-se à tona
Tem sido uma estratégia exaustiva demais
Talvez o melhor seja
Deixar-se ser
Sugada
Para baixo
Sempre para baixo
Quando duas ondas se separam
Há momentos de
Calmaria
Quietude
Tranquilidade
Algo definitivamente bom
Que consome e incandesce
Que alegra e floresce
Quando duas ondas se encontram
Você e eu, juntos
eu morro rápido, padeço em suspiros
eu morro sempre, cicatrizes e dores
Quando duas ondas se separam
Você e eu, longe
eu vivo alerta, inspiro e expiro
eu vivo pra sempre, repleta de amores
Um recado da autora: tem alguns encontros que parecem ondas
E não estou falando do mar. Talvez você tenha entendido o significado do poema, mas gostaria de deixar aqui mais uma confissão. Mergulhei em incontáveis ondas na vida, mas nenhuma, repito, nenhuma, me tragou de tal maneira, a ponto de eu ficar feliz em me afogar, como a sua. Obrigada.
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