![Roda gigante vista de baixo contra um céu nublado](https://static.wixstatic.com/media/41b8a4_6eb95243162c4402a412c6aea1e4bdc1~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_653,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/41b8a4_6eb95243162c4402a412c6aea1e4bdc1~mv2.jpg)
Existem dois tipos de frio na barriga: um que eu amo e outro que eu odeio.
Existe aquele que a gente sente quando erra um degrau ou quando está numa montanha-russa: é maravilhoso e excitante, gera quase uma dependência química no meu organismo, faz com que eu queira mais e mais. É viciante e entorpecente.
Mas existe aquele que a gente sente quando começa a conhecer alguém: quando há incerteza, a sensação do desconhecido, do pisar em ovos e de pensar em se jogar num oceano sem saber nadar. Quando não sabemos se há sentimento concreto, quando não conseguimos prever o que vai acontecer… Quando tudo é novo, surpreendente e estranho, mesmo que pareça que a gente já viu aquilo antes. Quando já é alguma coisa, mas ainda não é nada, e você não sabe nem se vai ser um dia… É esse frio na barriga que eu detesto.
Porque, quando a gente erra um degrau, alguma ínfima parte do nosso cérebro sabe que haverá outro degrau depois, ou na pior das hipóteses, haverá o chão, e do chão a gente não passa (passa?). Ou na montanha-russa, nós temos consciência de que a descida não dura para sempre, e que depois da descida, haverá a subida, e assim sucessivamente, como funcionam os dias, na verdade. Não é um total desconhecido, não haverá surpresas — bom, pelo menos, não tantas.
A gente conhece o antes, o durante e o depois do frio na barriga (aquele do primeiro tipo). E há uma verdade reconfortante em simplesmente saber o que vai acontecer, sem suspense, sem mãos suando frio. Há uma verdade reconfortante em saber.
Mas no outro tipo de frio na barriga, o problema é que a gente não sabe.
A gente nunca sabe.
Um recado da autora: por mais assustador que seja, aproveite bem todos os tipos de frio na barriga
Este texto foi escrito há muito tempo, e a motivação para escrevê-lo há muito já foi esquecida. Mas eu continuo apreciando essas sensações engraçadas de borboletas no estômago e cada frio na barriga, por mais incerto e desconhecido que seja, ainda me traz um sorriso ao rosto e um gostoso sentimento de familiaridade. Aproveite bem todos eles.
O primeiro frio na barriga está relacionado à adrenalina, por isso é delicioso e viciante, mas o segundo eu descreveria como ansiedade na sua forma mais pura. Nós não lidamos bem com a insegurança e, que sorte, vida é completamente imprevisível!
Me percebo tentando prever o futuro, criando mil e um cenários, imaginando até o que os outros podem imaginar... e isso cansa tanto, mas tanto! Tenho de me relembrar que só posso fazer o que estar ao alcance e me conformar o que não, mas a angústia teima em permanecer.
Para alguns, confiar no destino ajuda, eu sou o oposto. Acreditar na aleatoriedade é o que me mantém minimamente sã. Sou responsável por uma parte e deixo o curso…