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Mil formas de odiar o frio na barriga

Foto do escritor: Katherine CarvalhoKatherine Carvalho
Roda gigante vista de baixo contra um céu nublado

Existem dois tipos de frio na barriga: um que eu amo e outro que eu odeio.


Existe aquele que a gente sente quando erra um degrau ou quando está numa montanha-russa: é maravilhoso e excitante, gera quase uma dependência química no meu organismo, faz com que eu queira mais e mais. É viciante e entorpecente.


Mas existe aquele que a gente sente quando começa a conhecer alguém: quando há incerteza, a sensação do desconhecido, do pisar em ovos e de pensar em se jogar num oceano sem saber nadar. Quando não sabemos se há sentimento concreto, quando não conseguimos prever o que vai acontecer… Quando tudo é novo, surpreendente e estranho, mesmo que pareça que a gente já viu aquilo antes. Quando já é alguma coisa, mas ainda não é nada, e você não sabe nem se vai ser um dia… É esse frio na barriga que eu detesto.


Porque, quando a gente erra um degrau, alguma ínfima parte do nosso cérebro sabe que haverá outro degrau depois, ou na pior das hipóteses, haverá o chão, e do chão a gente não passa (passa?). Ou na montanha-russa, nós temos consciência de que a descida não dura para sempre, e que depois da descida, haverá a subida, e assim sucessivamente, como funcionam os dias, na verdade. Não é um total desconhecido, não haverá surpresas — bom, pelo menos, não tantas.


A gente conhece o antes, o durante e o depois do frio na barriga (aquele do primeiro tipo). E há uma verdade reconfortante em simplesmente saber o que vai acontecer, sem suspense, sem mãos suando frio. Há uma verdade reconfortante em saber.


Mas no outro tipo de frio na barriga, o problema é que a gente não sabe.


A gente nunca sabe.


Um recado da autora: por mais assustador que seja, aproveite bem todos os tipos de frio na barriga


Este texto foi escrito há muito tempo, e a motivação para escrevê-lo há muito já foi esquecida. Mas eu continuo apreciando essas sensações engraçadas de borboletas no estômago e cada frio na barriga, por mais incerto e desconhecido que seja, ainda me traz um sorriso ao rosto e um gostoso sentimento de familiaridade. Aproveite bem todos eles.

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2 Comments

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Isadora Santos Dias
Isadora Santos Dias
Nov 27, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

O primeiro frio na barriga está relacionado à adrenalina, por isso é delicioso e viciante, mas o segundo eu descreveria como ansiedade na sua forma mais pura. Nós não lidamos bem com a insegurança e, que sorte, vida é completamente imprevisível!

Me percebo tentando prever o futuro, criando mil e um cenários, imaginando até o que os outros podem imaginar... e isso cansa tanto, mas tanto! Tenho de me relembrar que só posso fazer o que estar ao alcance e me conformar o que não, mas a angústia teima em permanecer.

Para alguns, confiar no destino ajuda, eu sou o oposto. Acreditar na aleatoriedade é o que me mantém minimamente sã. Sou responsável por uma parte e deixo o curso…


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Katherine Carvalho
Katherine Carvalho
Dec 05, 2024
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Agora parando pra pensar, eu também não acredito em destino e também não acredito tanto na aleatoriedade. Pra falar a verdade, nos últimos anos eu só tenho dito pra Deus "que aconteça o que tiver que acontecer e me ajude a enfrentar o que vier", e tem dado certo hahahahaha Mas gostei do seu jeito de pensar também, como sempre somos muito parecidas na forma de sentir ❤️ obrigada por isso

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