![Pequeno lampejo de fogo contra um fundo todo escuro](https://static.wixstatic.com/media/41b8a4_3bf45bf51af74fb486db797cd4ab2a48~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_653,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/41b8a4_3bf45bf51af74fb486db797cd4ab2a48~mv2.jpg)
Hoje no banho senti aquele lampejo de novo. Aquela fagulha de esperança que surge às vezes, quando se menos espera, sabe? Ela estava morta há dias e resolveu aparecer justo debaixo da água quente. Eu quase a segurei, agarrei com todas as forças, até tentei amarrá-la no registro do chuveiro, porque ultimamente eu bem que tenho sentido a falta dela.
Ela escapou por entre os meus dedos. Rodopiou no chão do boxe e desceu pelo ralo.
Eu fiquei olhando para as minhas mãos vazias, querendo tê-la de volta, imaginando o quão fugaz e imprevisível ela era. Havia tantos outros momentos em que eu precisara dela, tantos choros inconsoláveis no meio da noite e pesadelos inexplicáveis, e ela nem deu as caras. E ali, no banho, ela resolve se mostrar e nem ao menos se dá ao trabalho de ficar tempo o suficiente para eu cultivá-la.
Eu me enrolei na toalha, vazia de novo, quando pisei fora do banheiro já não tinha mais nada.
Filha da mãe, volta aqui, sua desgraçada, deixa eu sentir seu gostinho mais um pouco.
Sentei na cama, fiquei bem quietinha, esperando ela voltar. Talvez se eu fingisse estar desatenta, distraída, ela se enganasse e resolvesse ficar mais um pouquinho. Tenho chorado tanto, poxa, e por um ou dois segundos, no chuveiro, eu senti vontade de cantar e pular, e escrever um livro, e estudar todo o conteúdo do meu EAD num dia só, e pular de bang-jump também, ou sei lá como escreve isso.
E aqui na cama, eu já não tenho vontade de fazer mais nada disso.
Porque o lampejo foi embora.
Ah, mas ele volta. Eu acho.
Me vesti como todos os dias, num modo automático e robotizado, penteei o cabelo, oi, escova, tudo bem? Quanto tempo! Essas coisas parecem impressionantes de vez em quando. Botei a roupa suja na máquina, sentei pra comer, e olha, só...
Oi, lampejo. Está com fome?
Um recado da autora: o lampejo aparece quando você menos espera
Saiba reconhecê-los e, acima de tudo, saiba recepcioná-los e acolhê-los bem para que eles se sintam felizes e queiram voltar mais vezes. É assim que se transforma os lampejos em verdadeiras chamas.
Esse texto tocou meu coração de uma forma profunda. Quando se está imerso na tristeza, qualquer sinal de esperança salta aos olhos. Só que na maioria das vezes, é como você disse, a sensação boa não dura o suficiente para ser cultivada. E quando ela acaba, a melancolia se intensifica, novamente.