top of page
  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Lista de curiosidades estranhas sobre meu pai

  • Ele sempre compra sapatos um número menor e tenta alargá-los colocando uma madeira dentro

  • Ele inventa palavras

  • Ele tem seu dialeto próprio (trânsito, ele diz “tarãn”, mochila é “muchiba”, problema é “piboma”, e assim por diante)

  • Ele criava musiquinhas para cada situação: para ir ao parquinho, para andar de bicicleta, para ir pra escola, para acordar no sábado de manhã, para quando a gente se perdia em alguma viagem

  • Quando a gente brincava de médico, ele era o paciente e dizia que seu nome era Peixoto Gomide

  • Ele raramente sente calor pois diz que é “descendente dos camelos”

  • Quando o tempo está seco, ele diz que tem “pregos no nariz”

  • Ele grita “TOCA RAUL” nos bares e restaurantes com música ao vivo

  • Ele odeia shoppings, mas me levava de boa vontade toda vez que eu queria comprar um livro novo

  • O café da manhã favorito dele é pão francês com manteiga e café com leite

  • Sua frase mais marcante é “em todo lugar tem água”

  • Ele abrevia tudo o que puder escrever (exemplo: “QTB = quer que te busque?” ou “QCAC = quer que compre alguma coisa?”)

  • Ele guarda meias usadas debaixo do travesseiro

  • Ele leva susto toda vez que alguém tenta acordar ele

  • Ele odeia gritos

  • Ele tem medo do cachorro da minha irmã (que é muito dócil)

  • Ele me ensinou a comer mexerica

  • Ele gosta de guardar potinhos e recipientes mesmo que nunca vá usar (puxei isso dele)

  • Ele costumava roubar canecas e copos dos restaurantes, mas parou de fazer isso quando percebeu que poderia ser um mau exemplo para suas filhas

  • Ele sabe desenhar muito bem

  • Ele construiu um castelo em miniatura pra mim pra uma atividade da escola

  • Ele me mimava tanto que aceitou instalar uma rede no meio da sala só porque eu queria me balançar assistindo TV (a gente sempre morou em apartamento)

  • Quando adotamos os gatos, ele não lembrava o nome deles e só os chamava de Cinzinha e Laranjinha

  • Quando o gato estava bravo, ele dizia que “ele vai me runhar”

  • Ele nunca aceitava voltar pra casa caso a gente esquecesse alguma coisa, pois dizia que “esqueceu, esqueceu”

  • Ele ri sozinho assistindo a pegadinhas

  • Ele acha que todas as doenças podem ser resolvidas chupando bastante laranja

  • Ele incentiva todo mundo a fazer exercícios físicos

  • Ele guardava dinheiro durante o ano todo e perto do Natal abria o cofrinho (nós amávamos)

  • Ele me ensinou a gostar de Zé Ramalho

  • Ele ficou internado por 16 dias quando era jovem por causa de uma crise de ciática

  • Ele ama ficar no sol e ama praia, mas não é muito de entrar na água

  • Ele tentou me ensinar a nadar, mas eu tinha medo e, no fim, acabei aprendendo sozinha, meio que sem querer

  • Ele não sabe falar “Harry Potter” (ele pronuncia Réuri Póti), e também não sabe falar “Katy Perry” (a pronúncia é Péuri)

  • Ele chamava o Troy Bolton (do High School Musical) de Estroy (não sei por quê)

  • A música favorita dele de todos os tempos é “I gotta feeling” do Black Eyed Peas

  • Ele não gosta de nenhum barulhinho dentro do carro enquanto está dirigindo

  • A linguagem do amor dele provavelmente é toque físico

  • Ele odiava que a gente comesse dentro do carro, mas no dia em que derrubei refrigerante no banco, ele não brigou comigo (mas eu senti que ele queria muito dar um grito)

  • Quando fazíamos bagunça, ele ameaçava chamar o zelador (falecido Seu Calisto)

  • Quando ainda morávamos em São Paulo, ele me contava a história da Monga, uma gorila fêmea assassina que vivia trancada no último andar do prédio, e por causa disso eu nunca tive coragem de ir lá em cima sozinha

  • Eu só tinha coragem de descer a ladeira da casa da minha avó no carrinho de rolimã com ele

  • Ele tentou me ensinar a jogar bolinha de gude, mas eu nunca aprendi

  • Ele é muito bom em sinuca

  • Ele construiu sozinho telas para todas as janelas do apartamento porque nós tínhamos muito medo de insetos

  • Quando encontrei uma barata dentro da minha camiseta, fiquei tão nervosa que ele me deu um copo de água com açúcar, e eu engasguei e quase morri duas vezes: uma de susto, outra por asfixia

  • Hoje eu tenho um hidratante de cabelo que tem o exato cheiro da loção de pós-barba dele

  • Eu e ele nos comunicamos por cartas, e eu tenho todas guardadas

  • Ele sempre assiste filmes aleatórios e, quando vem contar pra gente assistir também, não sabe o nome, nem quem são os atores, nem nada, então todos os filmes que ele já assistiu ficam eternamente num limbo da mente dele

  • Ele enrola a beirada das bermudas até o tecido ficar torcido, e eu acho que essas minhas manias esquisitas eu herdei tudo dele, pai, você é o culpado

  • Eu ensinei ele a jogar xadrez, mas até hoje suspeito que ele me deixava ganhar


Quando fiz a lista de curiosidades estranhas sobre minha mãe e sobre a minha irmã, precisei de ao menos 3 dias para reunir todas as lembranças a respeito de cada uma delas. Mas para fazer a do meu pai, foram necessárias apenas algumas horas. Talvez porque ele seja a pessoa que está mais longe de mim nesse momento, então as memórias afloram com mais facilidade.


Ou talvez porque ele sempre tenha sido essa pessoa tão peculiar e única que é impossível esquecer de cada detalhe, cada pequena coisa que ele fazia, cada pequena coisa que ele dizia, no meu dia a dia aqui, em outro estado, longe, muito longe.


É impossível eu não pensar que sou mesmo filha do meu pai porque gosto tanto de sol e de calor, é impossível eu não pensar que sou mesmo filha do meu pai porque gosto das minhas coisas todas bem organizadinhas, bem arrumadinhas, e não gosto que ninguém mexa ou as tire do lugar, que sou mesmo filha do meu pai porque ele é virginiano e eu tenho Lua em Virgem.


É impossível não pensar que sou mesmo filha do meu pai porque, mesmo de longe, eu me pego fazendo as coisas que ele faz e dizendo as coisas que ele diz, e às vezes minha mãe fala “seu pai que fazia isso” ou “seu pai que falava isso”, e bom, que pena que estamos tão longe agora, pai, eu em Curitiba, você em São Paulo, porque se estivéssemos perto, poderíamos estar fazendo as mesmas coisas e dizendo as mesmas coisas aqui, juntos, talvez não ao mesmo tempo, mas sempre de forma idêntica, porque não tem jeito, eu sou mesmo filha do meu pai.

Posts recentes

Ver tudo

Obrigada!

gulfer-ergin-LUGuCtvlk1Q-unsplash.jpg

Explore

Visite minha loja na Amazon e conheça meus contos, crônicas e livros

Por Katherine Carvalho

bottom of page