Tenho andado meio melancólica, sem vontade de escrever, o que em si já é estranho, sem vontade de sair, o que nunca foi estranho. Sinto saudade de várias coisas todos os dias, mas se me perguntarem, não vou saber dizer seus nomes. Quero muito um amor que me faça querer ficar, talvez para sempre, mas quando esse amor surge, quero ir embora, quero me libertar. Ultimamente tenho lembrado de momentos ruins da minha vida, da época escura, mas depois também lembro do sol.
Essa variação de emoções me deixa meio desnorteada, tanto quanto o clima, ora quente, ora frio, deixa desnorteada a minha rinite. Nunca sei em que acreditar, onde pisar, o que falar. Se acredito, torna-se falso, se piso, o chão se desmancha, se falo, me arrependo. Algumas coisas boas que aconteceram às vezes parecem bem próximas, como se tivessem acontecido ontem, e eu canto no chuveiro, danço sem sair do lugar porque de repente tem uma pequena chama de esperança em mim. Mas aí eu vou lavar a mão e vejo uma formiga encurralada entre duas poças de água, e sinto o desespero dela.
Às vezes eu ouço coisas que me deixam indignada, por isso escrevo textos para aliviar minha raiva, mas eu queria mesmo era gritar para o mundo inteiro o quanto ele é injusto — o problema é que iam escutar, mas não iam ouvir. Hoje li uma frase do Mario Quintana e sorri sozinha, era sobre poetas, mas ninguém mais além de mim estava sorrindo, será que só eu entendi? Agora, escrevendo isso, sinto vontade de chorar, porque entendo perfeitamente o que ele queria dizer.