Existem dois tipos de frio na barriga: um que eu amo e outro que eu odeio.
Existe aquele que a gente sente quando erra um degrau ou quando está numa montanha-russa: é maravilhoso e excitante, gera quase uma dependência química no meu organismo, faz com que eu queira mais e mais. É viciante e entorpecente.
Mas existe aquele que a gente sente quando começa a conhecer alguém: quando há incerteza, a sensação do desconhecido, do pisar em ovos e de pensar em se jogar num oceano sem saber nadar. Quando não sabemos se há sentimento concreto, quando não conseguimos prever o que vai acontecer… Quando tudo é novo, surpreendente e estranho, mesmo que pareça que a gente já viu aquilo antes. Quando já é alguma coisa, mas ainda não é nada, e você não sabe nem se vai ser um dia… É esse frio na barriga que eu detesto.
Porque, quando a gente erra um degrau, alguma ínfima parte do nosso cérebro sabe que haverá outro degrau depois, ou na pior das hipóteses, haverá o chão, e do chão a gente não passa (passa?). Ou na montanha-russa, nós temos consciência de que a descida não dura para sempre, e que depois da descida, haverá a subida, e assim sucessivamente, como funcionam os dias, na verdade. Não é um total desconhecido, não haverá surpresas — bom, pelo menos, não tantas.
A gente conhece o antes, o durante e o depois do frio na barriga (aquele do primeiro tipo). E há uma verdade reconfortante em simplesmente saber o que vai acontecer, sem suspense, sem mãos suando frio. Há uma verdade reconfortante em saber.
Mas no outro tipo de frio na barriga, o problema é que a gente não sabe.
A gente nunca sabe.