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  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Na ponta da língua — o desafio de apresentar à população o consumo consciente de alimentos

A Feira de Sustentabilidade do Parque do Ibirapuera, São Paulo, em março de 2019, abordou temas como consumo consciente de alimentos e compostagem

A Feira de Sustentabilidade Green Nation ocorreu em março deste ano no Parque do Ibirapuera entre os dias 25 e 31. O evento, gratuito, reuniu milhares de pessoas numa fila de mais de duas horas de espera e contou com atrações interativas e brincadeiras em grupo com o objetivo de conscientizar e sensibilizar o público a respeito da preservação do meio ambiente e de atitudes sustentáveis.


Entre programações divertidas e oficinas, o público pôde repensar, de maneira criativa, sua relação com a natureza. Os estandes variados ofereciam experiências inovadoras onde os visitantes redescobriam hábitos do cotidiano de uma forma totalmente diferente. Uma das atrações mais cobiçadas foi, de longe, a chamada de“Sabores e Sentidos”. Como o próprio nome indica, a atividade consistia em vendar os olhos dos participantes enquanto eles experimentavam comidas inusitadas. O ponto principal da experiência, entretanto, era o seguinte: os aperitivos oferecidos no estande eram nada mais, nada menos, do que partes usualmente não-utilizadas de alimentos, transformadas em comidas deliciosas.


Segundo Vanessa Cabral, nutricionista e líder do estande na Feira de Sustentabilidade, o objetivo daquela brincadeira em específico era sensibilizar a população acerca do consumo consciente de alimentos e da compostagem. “O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo. É extremamente urgente conscientizar as pessoas a utilizar o alimento inteiro, ou seja, comer casca, comer semente, talo, porque é nesses pedaços, normalmente descartados, que mais se encontra nutrientes".

Ela ainda ressalta que as peças descartadas dos alimentos são jogadas fora junto com plástico e metal, formando lixo orgânico que não é devidamente separado. Daí a importância da Feira da Green Nation.


“As comidas aqui degustadas exemplificam justamente isso: nós fizemos receitas deliciosas usando um alimento inteiro, inclusive a casca, que ninguém come, de uma maneira que as pessoas nem percebessem que estavam comendo aquilo que costumam desperdiçar”. Foi uma forma absurdamente inteligente de sustentabilidade, mas, infelizmente, nem todas as pessoas que visitaram o estande tinham em mente o conceito em si.


“Estamos conversando sobre produção de lixo orgânico e o que podemos fazer com ele, mas pouquíssimas pessoas se interessam em saber sobre isso. Elas querem entrar na estação apenas para comer e participar da brincadeira”, lamenta a nutricionista.


Devido a isso, Vanessa ressalta que a forma mais eficaz de sensibilizar a população a respeito desse tema é realizar campanhas como a Feira de Sustentabilidade da qual participou. “Acredito que só assim vamos conseguir: em eventos públicos de grande porte, em parques, onde as pessoas frequentam aos finais de semana, como também na educação das crianças, porque, se criarmos crianças conscientes, os adultos também serão”, emenda Vanessa.


Outro ponto importante que deve ser destacado é o desperdício, que não ocorre, em sua maior parte, dentro de casa, e sim em mercados e feiras de bairro. Mesmo assim, devemos ficar atentos ao lixo orgânico doméstico. Segundo Ewerton Silva, de 25 anos, uma das soluções mais viáveis, baratas e, consequentemente, sustentáveis, é ter uma horta no jardim. “Eu jogava muitos alimentos fora, frutas, resto de comida e, de alguma forma, eu queria mudar isso. Pesquisei e descobri que algumas dessas coisas poderiam servir de adubo. Então por que não criar minha própria horta e adubá-la com alimentos que antes iam para o lixo?”.

São ações como a de Ewerton, simples e corriqueiras, que fazem a diferença no futuro das gerações. Uma horta em casa é um belo exemplo de compostagem doméstica, processo de utilização de restos orgânicos como adubo, que impede o desperdício e auxilia na preservação do meio ambiente.


De acordo com Vanessa Cabral, a quantidade de alimentos produzida excede a capacidade de nós, seres humanos, consumir, contribuindo, assim, para o desperdício. Partindo desse pressuposto, conclui-se que a produção deveria ser cuidadosamente pensada e controlada. “Se houvesse menos comida disponível, talvez as pessoas se conscientizassem e não desperdiçassem tanto”, pondera.


Outras atitudes também podem ser tomadas em prol da sustentabilidade, que não agridam o meio ambiente e que, de quebra, preservem vidas inocentes. Atitudes como o veganismo, que exclui da dieta qualquer tipo de proteína ou derivado animal, formando uma alimentação à base de legumes, verduras e grãos.


De acordo com Luciana Eugênio, bancária e vegana há mais de 5 anos, o veganismo mudou sua vida. “Aprendi, por causa das ‘limitações’ que o veganismo impõe, que podemos utilizar integralmente os alimentos, já que não temos as mesmas fontes de nutrientes (carne) que a maioria das pessoas tem”, afirma. Além disso, a relação do veganismo com o processo de compostagem se evidencia no jardim de Luciana, que, assim como Ewerton, quando morava no interior, plantava árvores frutíferas para consumo próprio e as adubava com restos de comida. “Gerava menos lixo e reaproveitava muito bem os alimentos para melhorar meu solo”.


Sustentabilidade diz respeito ao futuro, mas consumo consciente é sobre o presente. Dessa forma, torna-se obrigação de cada um de nós cuidar e controlar a alimentação, o desperdício e a reutilização, para que, no futuro, as próximas gerações não sofram as consequências de nossas atitudes. Daqui uns dez anos, ninguém sabe o que nos aguarda, mas a nutricionista Vanessa Cabral é otimista: “Eu espero, de verdade, que estejamos muito melhores, mas isso só vai acontecer se começarmos a agir agora. A alimentação é um recurso finito – se não controlarmos agora, uma hora ele vai acabar”, completa.


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Por Katherine Carvalho

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