![Pôster da novela "Bom sucesso" da Globo](https://static.wixstatic.com/media/41b8a4_e0f74213a29149819f4f631f0b6c3378~mv2.jpg/v1/fill/w_905,h_505,al_c,q_85,enc_auto/41b8a4_e0f74213a29149819f4f631f0b6c3378~mv2.jpg)
Sim, eu assisto novela. E se você não assiste, lamento por você, sua vida deve ser muito sombria. Esse post é pra quem, como eu, não perde um capítulo das novelas da Globo (porque todo mundo sabe que a Globo é melhor que o SBT e a Record) e pra quem vive dizendo “meu Deus, que novela chata”, mas não muda de canal de jeito nenhum.
Se você me perguntar, vou saber falar sobre qualquer novela veiculada na Globo desde o ano 2000 (que foi quando eu nasci). Mas hoje quero falar especificamente da minha novela favorita e vou trazer pra você alguns fatos que fazem de “Bom Sucesso” uma das melhores novelas da Globo.
Primeiro, um resumo da novela “Bom Sucesso”
Tudo começa quando a costureira Paloma vai ao laboratório fazer uns exames de rotina a mando de sua chefe, e lá ela esbarra com um velho rabugento que por acaso é o Antônio Fagundes. Tudo vai bem até que o resultado dos exames da Paloma sai e, vish, ela tá com leucemia e tem só mais 6 meses de vida. Mas calma, não é Laços de Família.
Acontece que Paloma fica histérica e faz um monte de bobagem, inclusive passar uma noite com um cara que ela não sabe nem o nome (quem nunca? rsrs), porque acha que vai morrer, então por que não?
Só que: o exame dela foi trocado justamente pelo do velho rabugento que ela encontrou no laboratório. A partir daí, a Paloma quer porque quer conhecer o homem do exame trocado, e é assim que começa a linda amizade entre a Paloma e o seu Alberto, que transformou “Bom Sucesso” na minha novela favorita.
Agora vamos aos fatos.
Naturalidade nas atuações e nos cenários
Acho muito importante salientar que na vida real, ninguém, digo, ninguém MESMO, acorda já vestido, toma um gole de suco de laranja e sai correndo de casa dizendo que tá atrasado, deixando pra trás uma mesa inteira de comida. Isso é só em novela.
É por isso que “Bom Sucesso” faz a gente pensar que estamos dentro da nossa própria família. Cenas assim não acontecem lá. O que acontece é o seguinte: a família da Paloma acorda de pijama, descabelada, sentam todos juntos pra tomar o café, há gritaria pra decidir quem toma banho primeiro, a comida é a mesma que a gente tem em casa (arroz, feijão, carne, batata), e Paloma briga com os filhos sobre a bagunça que eles deixam espalhada pelo quarto.
Isso sem falar no “maternar” da Paloma. Eu vejo muito da minha mãe nela. O jeito bravo de dar bronca quando necessário, o carinho nos detalhes, a preocupação do dia a dia, o jeito cuidadoso de lidar com as particularidades de cada filho, o hábito de abraçar, beijar, apertar, fazer cócegas. Nunca vi em novela nenhuma uma mãe mais real do que a Paloma.
E essa naturalidade nas atuações e nos cenários dá um toque todo especial, deixa a novela mais leve, mais íntima do telespectador, como se a gente de fato conhecesse os personagens, como se eles fossem pessoas reais que a gente pode encontrar na esquina ou na praça do bairro.
E antes que eu me esqueça, faço uma menção honrosa a “Avenida Brasil”, que tem também muita naturalidade e foi, digamos, a pioneira nesse estilo de retratar com exatidão e fidelidade, sem floreios, sem filtros, a vida do brasileiro como, de fato, ela é.
O arco da personagem Nana
Se você assistiu “Bom Sucesso” e não se apaixonou pela Nana, você assistiu errado. O arco dela é o mais bonito da novela inteira — ela começa a história como uma personagem ranzinza, amarga, fechada e intransigente (praticamente uma mini-versão do seu Alberto, o pai dela), e no desenrolar, se torna uma pessoa mais amável, sorridente, maleável e divertida.
A principal responsável por essa transformação é, obviamente, Paloma. Vale dizer que a Paloma é o anjo dos Prado Monteiro: ela não só amansa o velho rabugento do seu Alberto, como também traz alegria para o resto da família.
É através dos conselhos dela, da alegria dela, que Nana percebe que era uma péssima mãe, que estava sufocando seu pai com seus cuidados e restrições, e que precisava valorizar mais a família em vez do trabalho. É através da Paloma que Nana reencontra a si mesma, seu amor pela arte, seu amor pela filha, pelo irmão, pela vida fora do trabalho. E claro, seu amor pelo Mário (que Mário?).
E é esse arco, essa redenção da Nana, que é tão bonita de assistir. Ao fim de “Bom Sucesso”, parecem duas personagens totalmente diferentes. Uma não tem nada a ver com a outra, e todo mundo tem que concordar que a versão 2 é muito mais legal.
Um vilão que a gente ama odiar (ou odeia amar)
Estamos falando do Diogo Cabral, marido da Nana. Toda novela tem que ter um vilão e esse daí tem um lugar especial no meu coração. Eu amo odiar ele, ou odeio amar, ainda não decidi. Ele é o tipo de vilão que no início não é de todo malvado, é mais ambicioso e pilantra do que bandido de fato, o que torna o personagem absurdamente engraçado e até carismático.
As interações do Diogo, interpretado por Armando Babaioff, com Gisele, sua amante, principalmente, merecem um destaque nesse texto. No início, o plano da Gisele e do Diogo é esperar a morte do seu Alberto para que a herança seja entregue a Nana, sua esposa. Assim, metade da herança da Nana ficaria pra ele, então ele poderia fugir pra Grécia com a Gisele, livres e ricos.
Só que, com a chegada da Paloma, a saúde do seu Alberto só melhora e sua morte é adiada, o que deixa Diogo p*** da vida. É aí que ele começa a revelar sua verdadeira identidade: um bandido mesmo. Do meio pro fim da novela, o personagem perde quase todo o seu carisma, porque deixa o seu lado “trapaceiro cômico” de lado para adotar a personalidade de assassino frio e calculista. Aì, não dá, né.
Um núcleo cômico realmente engraçado
Pode entrar, SILVANA NOLASCO. Olha, eu não gosto da Ingrid Guimarães, pronto, falei. Mas a personagem dela em “Bom Sucesso” é perfeita, o que torna o núcleo cômico realmente cômico. Eu particularmente dou muita risada sempre que eu assisto na Globoplay, o que acontece, mais ou menos, a cada três meses.
A morte abordada sem tabu
Desde o início a gente percebe que a protagonista da novela não é a Grazi Massafera: é a morte. Abordada com delicadeza, suavidade, ternura, a morte está presente do primeiro até o último capítulo — não como um mau agouro, mas como uma possibilidade real que todo mundo sabe que vai acontecer daqui a 6 meses. Porque esse é o tempo de vida que seu Alberto tem.
E ninguém tem medo de falar, não. Nem o seu Alberto. Na verdade, ele é o primeiro a tratar a morte como algo natural, nada de outro mundo: vai acontecer e pronto, e ele não tem medo. Até porque, como ele mesmo diz, ele não acredita em céu e inferno. A novela toda gira em torno dos preparativos para sua morte e da tentativa de todos os membros da família em tornar o restinho de sua vida mais feliz e confortável.
E pra quê tratar de forma melindrosa a única certeza da vida? A gente vai morrer. É um fato. Não seria mais fácil passar pelo luto se conversássemos sobre isso abertamente? Se, como o seu Alberto, que nunca foi religioso, mas sempre soube valorizar uma bela poesia, lêssemos para quem amamos o poema de Santo Agostinho quando a morte estivesse se aproximando?
A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Por que eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi
Não é, afinal, um monstro de sete cabeças. É como diz Santo Agostinho, só a passagem para o outro lado do caminho.
Os livros
Ah, a parte principal. Os livros. O seu Alberto é dono de uma editora e a história da novela tem como base o amor pelos livros. Acho que nenhuma novela, filme ou série retratou tão bem o amor pelos livros quanto “Bom Sucesso”.
Cada poema recitado por Antônio Fagundes, cada título que ele menciona nas conversas com a Paloma, cada vestido costurado por ela em homenagem às personagens femininas das histórias lidas na biblioteca, tudo me toca fundo no coração de uma forma que me dá até vontade de chorar.
Quem não lê nunca vai entender isso. Por isso, comece a ler imediatamente. Foram os livros que incentivaram a Paloma a sonhar, foram os livros que a aproximaram do seu Alberto, foram os livros que uniram ela e o Marcos, o par romântico da protagonista.
E faz sentido que a Paloma tenha encontrado o caminho até os Prado Monteiro. Porque pessoas com paixões semelhantes invariavelmente acabam se aproximando, e quem ama livros sempre acaba encontrando, mais cedo ou mais tarde, alguém que também ama livros.
A edição, a trilha sonora e o jogo de câmeras
E devo dizer que, nesse quesito, talvez, “Bom Sucesso” perca somente para “Além do Tempo”. Porém, nada se compara à edição dos trechos em que seu Alberto está lendo algum poema enquanto as imagens se sucedem na tela, uma atrás da outra, embalada pela voz aveludada do Antônio Fagundes, narrando o passar do tempo ou algum acontecimento importante.
O elenco e o enredo secundários
Não tem um personagem que não trabalhe bem nessa novela, impressionante. Aqui (já que o texto está se alongando muito) devo uma menção honrosa aos filhos da Paloma e aos funcionários da editora Prado Monteiro, que tornaram a novela muito mais prazerosa e divertida de ser assistida. Nunca mais fizeram atores mirins como o Peter…
Os pares românticos
Aqui não preciso me estender muito, né? O casal principal, Paloma e Marcos, interpretado por Rômulo Estrela (que homem…), é um dos mais fofos da história da teledramaturgia brasileira, segundo fontes confiáveis (eu). Os outros são muito queridos também, Gabriela e Vicente, Evelyn e Jeff, Nana e Mário… enfim, todos menos o Ramon, que é um babaca.
Esses foram os nove fatos que fazem de “Bom Sucesso” uma das melhores novelas da Globo, e como eu disse anteriormente, se você acha que novelas são uma perda de tempo, leu até o fim do texto por quê? De qualquer forma, seja bem-vindo ao Aqeme, espero que fique por um bom tempo, porque tem mais conteúdo sendo preparado com muito carinho pra você (mesmo que você não goste da Globo).
👏🏼
Muito bom!!
Você é incrível!
Melhor novela!! 😍😍