Não dê exemplos para explicar alguma coisa.
As melhores explicações são aquelas que escapam de nossa boca sem esforço, pois já estavam na ponta da língua, engatilhadas na garganta, prontas para serem expelidas.
Explicações boas são as que a gente nem precisa pensar sobre o real significado daquilo que precisa ser explicado, são coisas que já estavam enraizadas há anos em nossa mente, e levamos menos de um segundo para verbalizá-las — porque são fáceis, simples de dizer.
Mas a partir do momento que as palavras vêm com dificuldade aos lábios, a partir do momento que você se enrosca, engasga, tropeça nas letras e se perde no meio do caminho, talvez o que você precise explicar não seja tão claro assim, ou tão descomplicado, pra você. Talvez você não esteja acostumado a isso que você está sendo obrigado a explicar.
É então que a gente recorre aos exemplos.
Eu nunca consegui explicar a saudade sem dar exemplos. Porque não é um sentimento bom, embora seja familiar, nem é algo com que eu tenha me acostumado com o passar do tempo. Quando tento explicar a saudade, sempre citava minha avó de exemplo, porque quando falavam em saudade, eu imaginava o rosto dela. Mas se me pedissem pra explicar, pra verbalizar um conceito oficial, eu não conseguiria, porque minha mente estaria tomada pela imagem dela.
Agora, é diferente com o amor. Eu sei que o amor é sentimento abstrato, algo não palpável que preenche todo o espaço, algo que vai e volta, que palpita e faz o coração dobrar de tamanho. Sei que o amor tem nome, endereço, cor e comida preferidas, e sei que o amor esteve comigo desde o momento em que fui concebida.
E eu nunca, nem uma vez na vida, consegui pensar em amor sem imaginar o rosto de alguém, ainda que eu sempre soubesse explicá-lo sem dar nenhum exemplo. No entanto, junto com o conceito, vinham vários rostos, e nomes, e cheiros, e formatos, e memórias. E cá estou eu dando exemplos de novo.