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Aprendi na terapia que pensamentos não são reais

Foto do escritor: Katherine CarvalhoKatherine Carvalho
Palavra "terapia" escrita em inglês em peças pretas

Aprendi na terapia que pensamentos não são reais. A minha psicóloga tem maneiras muito eficazes e, digamos, muito delicadas, de dizer que esse tempo todo eu estive acreditando em coisas irreais que eu mesma inventei. Ela nunca é rude nem grosseira. Ela me disse que acreditar em pensamentos é como adicionar combustível a um incêndio. Se você incentiva, eles pegam fogo.


Já queimei demais, já me consumi em cinzas, hoje em dia não quero dar combustível aos meus pensamentos porque incêndios quase destruíram minha vida. Minha mente não aguenta mais nenhuma fagulha. Por isso, quando penso algo, faço o que minha psicóloga ensinou.


A primeira coisa é perguntar ao pensamento intruso “você é real?”. Geralmente, pensamentos reais tendem a provar que são reais, apresentando argumentos convincentes que te convencem que, sim, você pode acreditar neles. Pensamentos falsos ficam em silêncio, porque eles não são reais e tampouco têm coragem de assumir sua falsidade.


Pensamentos falsos não têm fundamento e, disse minha psicóloga, você pode também fazer uma lista em sua cabeça de todos os pensamentos que você sabe que são reais para contradizer os que não são. Isso costuma funcionar comigo, porque mentiras não duram muito, nem se sustentam quando você decide confrontá-los. Como qualquer covarde, se amedrontam diante de uma afirmação bem defendida e recuam quando você se recusa a recuar.


Acreditar em pensamentos não é um bom caminho, fique você avisado. Eu aprendi na terapia, mas tem gente que aprende fora da terapia também. Uma hora ou outra você percebe que está se embrenhando por vielas tortuosas e trilhas sombrias, e então está na hora reduzir a velocidade, pôr a mão na consciência, de dar meia-volta, de ir embora. O problema é que quanto mais embrenhado na mata dos pensamentos falsos você está, mais difícil fica de se desvencilhar.


Quanto mais você acredita em pensamentos falsos, mais difícil fica passar a acreditar que eles não são reais. Porque quando a mente entra em parafuso, é mais fácil descer do que subir, é mais fácil mergulhar do que subir à tona e, bom, nesses momentos, quem é que quer fazer esforço?


Fica tranquilo, uma hora você pega o jeito. Eu demorei, mas agora, quando eles surgem, até a aparência deles é diferente, sabia? Pensamentos reais têm um brilho suave, um cheiro que parece certo, o toque aveludado de um cobertor macio. Já os pensamentos falsos, não. Pensamentos falsos são disformes, têm um rosto esquisito, são opacos, sem vida, têm um cheiro ruim, são ásperos como a parte verde das esponjas de lavar louça. Com o tempo você aprende a reconhecê-los, às vezes você nem vai precisar questioná-los, pois eles vão se denunciar por conta própria.


É ruim o momento em que a gente percebe que esteve acreditando em mentiras esse tempo todo, mas é bom o momento em que a gente se dá conta de que, a partir de agora, não vai mais acreditar em mentira nenhuma, pois aprendeu a discernir uma coisa da outra. E, bom, aprendi na terapia que se nem eu mesma me engano, quem é que vai enganar? Minha pior inimiga sou eu, e no caso, estou aprendendo a ser menos inimiga e mais amiga, então estou controlando meus pensamentos para que eles não me induzam mais ao parafuso.


Odeio o parafuso. Às vezes parece que não vou conseguir sair dele, mas aprendi na terapia que tudo o que tem uma entrada tem também uma saída. Minha psicóloga é bem delicada ao me dizer que eu estive presa em algemas invisíveis e que eu poderia me libertar a qualquer momento se eu assim o quisesse.


Ela me disse: os seus sentimentos, você não controla, mas os seus pensamentos, sim. E se eu controlo meus pensamentos, eu decido no que pensar e no que não pensar. Não posso definir o que eu sinto, mas posso definir o que eu penso, então, no caso, dessa vez eu disse pra mim mesma: você não tem culpa de estar sentindo isso, mas pra quê pensar? Se quem está no controle é você, então faça algo a respeito disso.


Um recado da autora: se pensamentos não são reais, então você não precisa se preocupar com eles


Ainda que eles te causem ansiedade, ainda que eles te façam sentir nojo. Ainda que eles façam você sentir coisas horríveis. Você é o que você faz, não o que você pensa.

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