![Pôster do filme "Corte no tempo" da Netflix](https://static.wixstatic.com/media/41b8a4_0d827d3eab8848ceb6e501e3b2c06d1c~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_551,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/41b8a4_0d827d3eab8848ceb6e501e3b2c06d1c~mv2.jpg)
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Se você não gosta de spoilers, a autora recomenda que feche este post e volte apenas quando já tiver assistido o filme.
● 2024
● Direção: Hannah Macpherson
Lançado recentemente na Netflix, “Corte no tempo” é o meu mais novo filme de suspense preferido. Meio no estilo de “A morte te dá parabéns”, a história realmente me conquistou e eu com certeza vou assistir de novo. Pra mim, é daqueles filmes que a gente não enjoa nem se assiste 30 vezes.
Porém, por mais que eu tenha gostado, reconheço que existem falhas na construção da história e furos no enredo do filme. Calma, já vou te mostrar. Continua lendo aí.
Primeiro um resumo de “Corte no tempo” – esta resenha pode conter SPOILERS
Em “Corte no tempo” somos apresentados à personagem Lucy, uma brilhante estudante de física que, ao encontrar por acaso uma máquina do tempo, retorna para o ano de 2003, poucos dias antes de sua irmã mais velha ser assassinada.
Agora Lucy encara um difícil dilema: ela salva a irmã do serial killer e arrisca alterar toda a vida delas dali em diante ou deixa a irmã morrer para não mexer no futuro?
Infelizmente não consigo escrever uma resenha sem revelar pedaços importantes da história (mesmo que pequenos), então, se você não gosta de spoilers, recomendo interromper a leitura imediatamente.
Uma protagonista que não sabe seu propósito
Não é de hoje que esse tipo de plot faz sucesso nas telinhas, né? Quando se trata de protagonistas que não sabem seu propósito, podemos automaticamente pensar em pelo menos 50 filmes diferentes.
Não que isso seja um problema – na verdade, é um dos meus plots favoritos. Um pouco previsível? Sim. Um tema já batido? Também. Mas e daí? Funcionou do mesmo jeito.
No início de “Corte no tempo”, após sermos apresentados à personagem Summer, que morre nos primeiros minutos do filme vítima de um serial killer que nunca é encontrado, conhecemos a verdadeira protagonista da história: Lucy.
Lucy não sabe qual é seu propósito. Lucy sente que sua vida não tem sentido. Lucy sente que falta alguma coisa. E realmente falta, como a gente vê no decorrer do enredo: o estágio na Nasa que ela tanto quer fazer é vetado pelos pais, que não querem que ela saia da cidade (afinal, já perderam uma filha e não querem perder outra), a família parece estar sempre triste e eternamente em luto e, pra piorar, ela tem que visitar o túmulo da irmã (que ela nem conheceu) uma vez por ano e dar presentes.
Não há problema em homenagear entes falecidos. O que é problemático aqui é a forma de agir dos pais de Lucy – parece que a vida deles parou no momento do assassinato de Summer. E embora tenham tido outra filha, não dão a ela a atenção necessária e, de certo modo, negligenciam tudo que deveria ser dirigido a ela.
Eles estão sempre tão concentrados na tristeza de ter perdido Summer que se esquecem que existe outra filha precisando de amor, de cuidados, de atenção. É daí que vem a sensação de abandono de Lucy, e você se conecta na hora com ela justamente por isso.
Aí do nada aparece uma máquina do tempo
Aí começamos a parte interessante do filme. Ao visitar o túmulo da irmã (que fica no exato lugar em que Summer foi assassinada ????? Peculiar velar a menina ali, mas ok), Lucy encontra por acaso uma máquina do tempo e, como sempre acontece nos filmes, vai mexer no que não é da sua conta.
Uma série de suspeitas apareceu na minha cabeça: de quem é a máquina? Por que está especificamente ali? Por que a máquina está programada para aquela data?
Enfim, isso tudo não importa agora, porque Lucy ativa a máquina sem querer e volta para o ano de 2003, poucos dias antes de sua irmã morrer. É muito legal acompanhar a jornada da protagonista, desde o passeio pela cidade notando as sutis diferenças até a percepção final de que, sim, ela voltou no tempo.
Meu Deus, que nostalgia
A ficha demora a cair, mas enquanto Lucy não se dá conta do que aconteceu, nós, meros espectadores, experimentamos a deliciosa sensação da nostalgia. Acho que se você está lendo este post, provavelmente viveu nos anos 2000, então vai entender o que estou falando.
Calças de cintura baixa, blusas acima do umbigo, acessórios coloridos e brilhantes… quem viveu, sabe! Ao mesmo tempo que eu sentia uma pontada de saudade, sentia também um pouquinho de vergonha alheia, porque, meu Deus, que época agridoce, né?
Não sei como a gente conseguia usar aquelas roupas e aquelas maquiagens (e ainda achava que estava arrasando). Mas tudo bem, porque assim como a consciência humana, a moda também evolui e, graças a Deus, hoje eu só uso calça de cintura alta.
Mas voltando para o filme, existe um gênero de suspense que me atrai muito: o suspense-comédia. É aquela história que tem sustos, tem sangue espirrando na tela, tem um enredo macabro, mas também tem cenas engraçadas, que te arrancam uma gargalhada, que “pausam” a sensação de medo para proporcionar um pouquinho de diversão no meio da pancadaria.
E é muito, muito difícil construir esse tipo de gênero sem perder a naturalidade das interações entre os personagens e a fluidez do enredo. E graças a Deus, em “Corte no tempo”, eles conseguiram.
Quem não ficaria em dúvida?
Chegamos no principal conflito da trama. Quando Lucy volta para 2003, tudo o que ela quer é arranjar um jeito de retornar para o ano de 2024. Só que uma coisa muda tudo: ela conhece a irmã. Entendam, Lucy nasceu depois da morte de Summer, então ela não sabia quem a irmã era de fato.
Mas ao conhecer Summer, Lucy passa automaticamente a amá-la e, agora, deixá-la morrer “de novo” parece ser uma escolha errada. Coloque-se no lugar de Lucy: você ama sua irmã e precisa decidir entre salvar Summer e arriscar toda a vida das duas dali em diante ou manter tudo como está para não mudar o futuro.
Que decisão você tomaria? Difícil, né? Eu não faço ideia do que eu faria. Mas o legal aqui é que Lucy arranja uma maneira inovadora de solucionar o problema, e eu tenho certeza que você também não tinha pensado nisso antes. É aí que surge o principal “defeito” do filme.
Mudar o passado deveria ser uma péssima ideia
Não sou estudante de física e também não sei fazer contas de matemática. Mas já li Recursão (leia a resenha aqui) e já vi “De volta para o futuro” rsrsrs Então posso afirmar com autoridade que viagens no tempo sempre acabam mal.
Existe o tal do efeito borboleta, integrante da teoria do caos: se você mexe num negocinho minúsculo aqui, aparentemente insignificante, isso pode ter um impacto gigantesco em outro lugar, e é assim que tudo vira uma bola de neve e todo mundo morre no final.
Mas, muito além disso, alterar o passado é como mexer num ninho de vespas: você acha que não vai dar em nada se mudar uma coisinha e quando vê, seu futuro virou do avesso. Isso porque a vida é composta de pequenas e grandes decisões que influenciam as decisões futuras, então se você muda aqui, muda lá também.
Pode parecer fantasia, mas a física explica isso. Não sei direito como, mas tem a ver com o espaço-tempo. Se você entende disso, me ajuda aí nos comentários. Eu só sei que, em “Corte no tempo”, tanto Lucy quanto o personagem que ajuda as irmãs ao longo do filme, são brilhantes estudantes de física.
Quando Lucy revela seu desejo de salvar a irmã, Quinn faz um discurso sobre o quão perigoso é alterar o passado e enumera para Lucy todas as consequências que ela pode vir a enfrentar no futuro por causa dessa mudança.
É aqui que vem o spoiler: se Summer não morrer, os pais dela não vão querer outro filho. Então Lucy nunca nasce se Summer não morre. E aí, como fica?
Percebe a bagunça que isso acarretaria? Essa, na minha opinião, é a grande “falha” do filme. Porque todos nós sabemos que a decisão de Lucy transformaria profundamente seu futuro, e no entanto, no fim, percebemos que tudo acabou bem.
Nenhum mal aconteceu, ninguém saiu prejudicado, ela ficou viva e existindo tranquilamente no ano de 2003. A grande alteração que ela fez no passado em nada mudou seu futuro.
E isso, falando em termos de física, jamais seria possível. Mas quem somos nós pra julgar, não é mesmo? O cinema não serve só pra mostrar a realidade, então quem liga se o roteiro não seguiu o que dita a teoria do caos?
Quem liga se, na verdade, o filme acabou bem, quando era pra ter acabado “mal”? O filme é bom, é engraçado, é emocionante, o suspense é maravilhoso, o enredo é ótimo, os personagens são incríveis, e daí que eles forçaram a barra com esse final?
E daí que o final foi clichê? Eu adoro finais clichês de vez em quando. É o que minha mãe chama de “fim Giselístico”. E daí que uma viagem no tempo jamais terminaria assim se acontecesse na vida real?
E quem disse que viagem no tempo existe, pra começo de conversa? Quando alguém provar que existe, aí a gente abre outra discussão, combinado?
Sou teu fã ❤️
Incrível como sempre!! 🫶🏻