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Uma resenha do filme “Jaula”: sempre desconfie dos seus vizinhos (sempre!)

Pôster do filme "Jaula" na Netflix

● 2022

● Direção: Ignacio Tatay


Esta resenha do filme “Jaula” contém spoilers


Baseado em assustadores acontecimentos reais, o filme “Jaula” é um suspense da Netflix que conta a história de um casal infértil que, ao encontrar uma garotinha perdida no meio de uma estrada deserta, decidem cuidar temporariamente dela até que se sinta segura e acolhida, podendo, assim, explicar a todos o que aconteceu, de onde vem e quem são seus pais — afinal, todos os indícios apontam para uma situação de maus-tratos e abandono.


Um filme monótono, mas bom


A princípio, o início do filme pode parecer monótono e você invariavelmente pode acabar se perguntando “mas não era um filme de suspense?”. No entanto, vale lembrar que o desenrolar lento é fundamental para o entendimento final da história, e que o desenvolvimento da protagonista Klara, assim como a construção de seu relacionamento com Paula, se deve quase inteiramente à paciência que a mãe adotiva demonstra para com a criança — no jeito com que Paula espera que Klara se sinta confortável para manifestar seus desejos, no jeito com que Paula desenha linhas no chão, bem devagar, para que Klara tenha coragem de se locomover pela casa, e no jeito com que Paula (pelo menos no começo) não força Klara a ultrapassar os limites estabelecidos pela criança.  


Dessa forma, é possível compreender que, primeiro, há a sensação de monotonia, descobrimento (de Paula em relação a Klara e vice-versa), compreensão, para depois haver suspense, e eu acho que é aí que reside a principal beleza do filme. Não é um suspense que tira o fôlego nem que dá sustos: é um suspense que começa tímido e vai te envolvendo até que você esteja tão mergulhado na história que não percebe o verdadeiro clímax chegando.


O que querem dizer as linhas no chão?


Três coisas chamam bastante a atenção do espectador: a primeira é a estranha fascinação de Klara pelas linhas de giz no chão. Por mais estranho que pareça, Klara jamais pisa fora das linhas de giz desenhadas no chão, e o fato de ninguém saber porquê só deixa o público mais aflito. Várias coisas me passaram pela cabeça: ela faz parte de uma seita? Ela tem algum distúrbio? Ela foi maltratada? Várias teorias e eu nunca imaginei o que de fato significavam aquelas linhas no chão. No entanto, mesmo sem saber e sem ouvir uma palavra de orientação da criança, Paula entende que aquilo é importante para Klara e aprende a usar isso a seu favor, não como uma limitação, mas como uma arma. 


De fato, as linhas de giz no chão são grandes protagonistas na cena final da fuga de Klara, e isso só foi possível porque Paula a ensinou não a apagar totalmente, mas a remodelar as linhas de giz para que pudesse ir cada vez mais longe. 


A segunda coisa que mais chama a atenção do espectador é o fato de que, a princípio, ninguém parece suspeito, e quando os incidentes com os cacos de vidro começam a acontecer, até eu achei que a responsável era Klara — acredito que essa era a intenção da direção do filme: mostrar que, se quisermos descobrir quem é o bandido da história, devemos investigar profundamente, não somente julgar apenas pela aparência (e de preferência, devemos procurar no subterrâneo da casa da pessoa também).


Um final um tanto quanto aberto


E a terceira coisa, e talvez a mais chocante, é a percepção final que o espectador tem de que a esposa de Eduardo, Maite, parecia saber de todas as atrocidades do marido desde sempre, sendo, portanto, uma cúmplice dos seus crimes. E por fim, a dúvida: quem fez a denúncia que enfim libertou Paula e Klara? Teria sido Maite, compensando seus anos de silêncio e conivência? Teriam sido os gritos de Klara, aparentemente infrutíferos, chamando por Simón? Teriam sido as marcas de giz na porta? A realidade é que nunca saberemos, e os momentos mais marcantes de “Jaula” ficarão presos em sua memória por bastante tempo, da mesma forma que Klara era acostumada a se manter presa dentro das finas linhas de giz no chão do cativeiro.

Obrigada!

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Por Katherine Carvalho

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