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  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Uma resenha do filme “O homem invisível”: parem de chamar as ex-mulheres de loucas

Pôster do filme "O homem invisível" com Elizabeth Moss

● 2020

● Direção: Leigh Whannell


Esta resenha do filme “O homem invisível” contém spoilers


Loucos ou não, todos nós já questionamos nossa própria sanidade mental. Esse tema é tratado com maestria no filme “O homem invisível”, onde a protagonista é retratada fugindo de um relacionamento tóxico e se refugiando na casa de um amigo, onde pensa estar a salvo de seu marido abusivo. No entanto, quando um homem invisível passa a persegui-la, ninguém acredita em Cecilia, que afirma ser o marido — talvez porque ele tenha aparecido misteriosamente morto apenas alguns dias antes. 


Tudo é muito estranho e assustador desde os primeiros instantes do filme, mas o que mais me fascinou foi a capacidade do diretor (e também da própria atriz que interpreta a protagonista, porque ela tem todo o mérito dessa conquista) de fazer com que o espectador entre na cabeça de Cecilia e passe a se sentir tão louco quanto ela. Porque é inevitável: Cecilia se pergunta a todo momento se aquilo tudo está realmente acontecendo ou se ela está ficando maluca. Todas as vezes que Cecilia duvida de si mesma, o espectador se pega duvidando também. E é um toque tão genial que isso dá um ar todo especial à trama.


Um suspense surpreendente com gostinho de “quero mais”


O filme tem um ar de suspense que não soa nem um pouco forçado ou exagerado. Não há nenhuma cena clichê onde o espectador pensa “de novo essa história?” ou aqueles momentos previsíveis onde todos sabem exatamente o que vai acontecer. Na verdade, os tons claros do filme fazem um contraste surpreendente com os filmes de terror clássicos aos quais estamos acostumados, com seus tons sombrios de preto e cinza e suas cenas fechadas em porões e sótãos escuros. 


Sem sombra de dúvidas, a cena mais memorável de “O homem invisível” é a da escada, quando Cecilia está no sótão colhendo algumas provas irrefutáveis de que o homem invisível é real. De fato, jogar tinta branca naquela monstruosidade foi a cereja do bolo para provar ao espectador — e a si mesma — que o homem invisível não era uma ilusão: era real, de carne e osso. E é nesse momento tão aterrador (acompanhado de uma trilha sonora maravilhosa, diga-se de passagem) que Cecilia tem diante de si a verdade triunfante. Agora resta fazer todo mundo acreditar que não está louca. 


O filme avança com a mesma energia de suspense e mistério do início, e um brinde a isso: ele não perde o ritmo nem por um segundo sequer. A história nos faz pensar em como somos constantemente questionados quando alegamos determinados fatos, principalmente nós, mulheres — como somos colocadas em custódia, como nossas frases são encaradas com dúvidas e suspeita. Como o que dizemos nunca é aceito logo de cara como verdade, como há sempre um “mas será?”, “prove” ou “duvido!”. E por que não acreditaram em Cecilia, por que logo concluíram que ela era louca? Por que não investigar, por que não dar ouvidos a ela? 


Porque ela era mulher? Porque a história dela parecia sem pé nem cabeça? Ora, e no final, ela estava certa. Bem, não completamente. Se você assistiu ao filme, talvez também tenha se surpreendido quando descobriu que, a princípio, o homem invisível não era o marido — era o cunhado. Mas calma, ainda não chegamos ao fim. O verdadeiro desfecho ainda está por vir. E digo que “O homem invisível” não poderia ter tido desfecho mais espetacular do que ver Cecilia jantando com seu marido (pasme: que não morreu!) e aparentemente perdoando-o, só para depois vermos o marido cortando a própria garganta, se esvaindo em sangue e olhando horrorizado para Cecilia, enquanto ela assiste à cena e sussurra “surpresa”.

Obrigada!

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Por Katherine Carvalho

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