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  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Uma resenha do filme “Questão de tempo”: é possível rir, chorar e refletir tudo ao mesmo tempo

Pôster do filme "Questão de tempo" com Domhnall Gleeson

● 2013

● Direção: Richard Curtis


Esta resenha do filme “Questão de tempo” contém spoilers


A começar pela paleta de cores, “Questão de tempo” é, sem sombra de dúvidas, uma coleção preciosa e rara de momentos, cenas e personagens que transformam o filme numa das mais belas e emocionantes obras-primas já criadas no mundo cinematográfico. Essa é a opinião de alguém que está longe de ser uma especialista no assunto — mas que adora esse filme com todas as partículas do seu insignificante ser. 


Mas voltando à paleta de cores. No início do filme, somos apresentados aos membros da família Lake: a mãe, o pai, a filha Kit Kat e o filho (e protagonista) Tim. Nota-se que a primeira descrição que Tim faz de si mesmo é “muito alto, muito magro, muito ruivo”, e talvez seja por isso que, ao longo de todo o filme, a paleta se utiliza de cores quentes, claras e vivas, como o amarelo, o laranja, o vermelho, que são, em todo caso, tons que remetem à paixão, amor, fogo, calor, agitação, humor e energia — elementos muito presentes ao longo de toda a trama.


A relação subentendida entre as cores e as personalidades dos personagens


E nem precisamos ir muito longe para notar esse detalhe: logo nas primeiras cenas, vemos Tim vestido com calças amarelo-alaranjadas e camisetas vermelhas, enquanto Kit Kat (uma personagem que sofre de depressão) é descrita como alguém que está “sempre vestida de roxo”, uma cor comumente associada à tristeza e à solidão. Além disso, vemos que Mary (interpretada com maestria por Rachel McAdams) se casa vestida de vermelho, o que rapidamente associamos à sua paixão avassaladora por Tim (depois de muitas e muitas idas e vindas das viagens no tempo).


Tim é um dos personagens mais fascinantes que teremos o prazer de ver num filme. Desde o início sentimos uma conexão imediata pelo protagonista, com seu estilo tímido e desajeitado, sua busca por um amor e, o principal, a descoberta de um poder familiar que passa de geração para geração, sempre de pai para filho. Acredito que esse poder em questão é a peça-chave para toda a trama, porque é através dela que Tim consegue enxergar a vida de um modo diferente, para que possa aproveitar cada dia como se fosse único.


É válido dizer que muita gente utilizaria o poder para benefício próprio e, até, para conseguir futilidades, como ficar rico e viajar o mundo. Mas Tim, muito pelo contrário, pensou primeiro nos amigos — como quando ajudou Harry numa de suas peças de teatro fracassadas — para só depois pensar em si mesmo — recorrendo a várias viagens no tempo para tentar, de todo jeito, fazer com que Mary se apaixonasse por ele. No entanto, vemos com clareza que em nenhum momento Tim joga sujo ou prejudica alguém para conseguir o que quer. Ainda que, teoricamente, ele tenha o poder de ignorar certas leis sociais ou condutas de moralidade, ele, deliberadamente, escolhe não o fazer nem uma vez.


Uma história de amor diferente de todas as outras


Em seguida, vemos o fruto do relacionamento de Tim e Mary se concretizando num novo ser humano. É então que o espectador ouve Tim dizer que “viagens no tempo agora são praticamente desnecessárias, porque cada detalhe da vida é impressionante”. Contudo, ainda existem coisas, mesmo nas vidas mais perfeitas, que a gente gostaria de consertar. Na cena em que Tim se dá conta de que a irmã sofreu um acidente, uma frase fica registrada em nossa memória: se preocupar com algo é como mascar chiclete tentando resolver uma equação matemática, pois os verdadeiros problemas são coisas que nunca sequer passaram por nossa mente preocupada.


É engraçado, num sentido meio trágico, assistir a Tim tentando consertar as coisas da vida de quem ele ama. É engraçado assistir a Tim percebendo que ele não pode consertar tudo pelos outros, e que às vezes, a gente precisa deixar alguns erros acontecerem para sabermos fazer direito no futuro. É muito prazeroso assistir a Tim descobrindo que nem ele, com todo o seu poder de viagem no tempo, pode mudar o passado totalmente. Porque, assim como nós, chega um momento do filme em que Tim percebe que certas coisas já não podem ser alteradas. E não seria, pois, o que acontece com todo mundo?


Uma fonte inesgotável de reflexões


Assistir a “Questão de tempo” é um aval para muitas reflexões internas. Ninguém sai ileso dessa experiência. É comum nos perguntarmos muitas coisas depois que o filme acaba. Estamos vivendo direito? Estou aproveitando os pequenos prazeres da vida? Estou sendo gentil o suficiente? Estou sendo duro demais com meus filhos? Estou aproveitando o tempo que tenho com meu marido, com minha esposa, com meu namorado? Estou mesmo gastando o escasso tempo que tenho na terra ficando mal-humorado, irritado, estressado? Estou desperdiçando momentos incríveis ao lado de quem amo simplesmente porque tive um dia ruim no trabalho? Ou porque estou cansado? Ou porque estou triste? 


Eu estou olhando à minha volta? Ou estou apenas vivendo no modo automático, induzido pela correria do dia a dia? Estou prestando atenção no sorriso do meu filho, no abraço da minha esposa, na risada dos meus pais? Estou realmente aqui? 


Essas são perguntas que Tim só aprendeu a responder porque recebeu o poder de voltar no tempo. O que nós fazemos, então, já que não fomos (e nunca seremos) agraciados com essa dádiva? O que nos resta é assistir a filmes que trazem ensinamentos muito além de um simples entretenimento, e pensar que amanhã… ora, amanhã talvez eu aproveite mais quem eu amo e viva o dia como se, de fato, ele fosse único.

Obrigada!

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Por Katherine Carvalho

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