![Pôster do livro "A culpa é das estrelas"](https://static.wixstatic.com/media/41b8a4_aaae19d756de498c8ad45cdebfba1169~mv2.jpg/v1/fill/w_980,h_551,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/41b8a4_aaae19d756de498c8ad45cdebfba1169~mv2.jpg)
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Se você não gosta de spoilers, a autora recomenda que feche este post e volte apenas quando já tiver lido o livro.
● A culpa é das estrelas
● John Green
● 224 páginas
● Lançamento em 2013
Eu tinha 12 anos quando li esse livro pela primeira vez. Terminei a leitura em um dia e lembro que chorei horrores, bem baixinho pra não acordar ninguém, porque eram 2h da manhã. Não sei se eu choraria tanto se eu lesse novamente agora, já adulta, mas na época, foi emoção demais pra uma menina que não sabia nada da vida (nem da literatura).
Nesta resenha você vai ver que no meu coração ainda existe um carinho enorme pelo livro “A culpa é das estrelas”, mas que hoje, com um olhar mais maduro, tenho a sensação de que enxerguei a obra muito maior do que ela realmente é.
É que, na época, meu entendimento era superficial e romântico como o de qualquer adolescente, então não prestei muita atenção a detalhes técnicos, mas agora minha visão é outra.
Quando a gente passa a analisar com clareza fatores como construção de personagens, enredo e desenvolvimento da trama, determinados livros que amávamos na adolescência passam a ser vistos sob uma nova ótica.
Mas calma, primeiro a sinopse de “A culpa é das estrelas”
Hazel Grace, paciente de câncer terminal, já está conformada com seu destino desde o diagnóstico. No entanto, quando ela conhece Augustus Waters no Grupo de Apoio, ela percebe que esse finzinho de vida que lhe resta não precisa ser tão solitário ou deprimente quanto pensava, e que talvez o amor possa preencher os pequenos infinitos na vida dos dois.
Uma boa história, mas falta profundidade
Não quero de forma nenhuma que você pense que essa é uma crítica negativa de “A culpa é das estrelas”. Muito pelo contrário. É um livro muito bom, com uma boa história, excelente para adolescentes com muitos sonhos e nenhuma decepção no coração, mas como eu disse, nós, adultos chatos e exigentes, enxergamos detalhes que pessoas mais novas deixam passar.
Por isso eu digo que o enredo é bom e é bem construído. Eu diria que, de todos os livros do John Green, esse é o melhor. “O teorema Katherine” (que coincidentemente tem meu nome) e “Quem é você, Alasca?” não são ruins, mas nenhum deles me cativou como “A culpa é das estrelas”.
Todo esse lance da doença da Hazel, os sintomas do câncer, as idas ao hospital, o relacionamento com o Augustus e a viagem para a Holanda, deram ao livro um peso que foi fundamental para que essa resenha seja positiva.
Mas, mesmo assim, falta profundidade. Com certeza John Green poderia ter destrinchado um pouco mais a relação entre os protagonistas, pensado melhor na construção do desfecho e caprichado mais nas motivações dos personagens.
Eu acho que, pelo potencial da história, “A culpa é das estrelas” poderia ter sido um livro mais longo — na minha visão de leitora e escritora (ainda que iniciante), algumas páginas a mais poderiam ter dado ao livro uma profundidade maior.
Personagens cativantes e carismáticos
Hazel é o tipo de protagonista que você se apaixona logo no início. Com uma personalidade naturalmente divertida e uma sagacidade ímpar, ela conquista todos à sua volta e, consequentemente, o leitor.
Sua fragilidade também é cativante e os momentos de tensão em que a doença parece estar prestes a vencer causam uma angústia genuína ao leitor.
Já Augustus, com seu senso de humor autodepreciativo e o cigarro apagado sempre na boca, é o par romântico que toda menina de 12 anos sonha em ter. E Isaac… Ah, o Isaac. Eu gosto muito do Isaac.
Não vejo problema nenhum com os personagens. O problema mesmo, pra mim, está no desenvolvimento. Vou te mostrar, peraí.
Um desenvolvimento meio… ???
Eu não sei qual sua opinião sobre “A culpa é das estrelas”, mas pra mim, todo o desenvolvimento foi meio ??? E eu não sei qual palavra usar para descrever esse sentimento, lamento.
Aos 12 anos eu não vi problema nisso, mas hoje, parando pra analisar, fico pensando se não é meio “nada a ver” eles embarcarem numa viagem pra Holanda pra conhecer o autor de um livro que foi interrompido no meio de uma frase.
Beleza, era o livro favorito da Hazel e coisa e tal, mas o cara é um bêbado que trata ela e Gus feito lixo quando eles chegam à Holanda. Não sei você, mas eu me senti incomodada de ter sido essa uma das últimas experiências do Gus em vida.
E sei lá, Peter Van Houten (o autor de “Uma aflição imperial”, livro favorito da Hazel) é um personagem esquisito, não me conquistou, nem no livro e nem no filme, diga-se de passagem. Não me agradou na época e com certeza não me agrada agora.
Trechos um tanto filosóficos demais
Esse é um defeito do John Green. Ele é filosófico demais. Não tem nenhum problema em ser filosófico, mas essa é uma característica que deve ser bem dosada, caso contrário o livro se torna maçante e prolixo.
É por isso que minha irmã odiou “O teorema Katherine”. Tem filosofia e blá-blá-blá demais. Ele exagera na dose, sabe? “A culpa é das estrelas” não peca tanto assim, mas de verdade, às vezes enche o saco tentar entender tanta metáfora.
Um final emocionante
O final é, ao mesmo tempo, a parte mais bonita e mais triste de “A culpa é das estrelas”. Não me lembro de ter chorado assim em nenhum outro livro, exceto, talvez, em “Um dia”, de David Nicholls.
Gosto particularmente do final porque não é giselístico (é como a minha querida mãe chama os finais clichês em que o mocinho termina com a mocinha e todos vivem felizes para sempre).
No fim, SPOILER, o Gus morre, e todos nós ficamos destruídos. Mas é lindo o discurso de Hazel em seu funeral e é ainda mais linda a carta que Gus deixa para ela. Eles são a prova de que precisamos aproveitar nossa vida ao máximo até o último instante, e que alguns infinitos são maiores que outros e que, por menor que o meu seja, eu devo fazer ele valer a pena.
E é visceral a dúvida que se segue: e Hazel? Ela também morre? E o Isaac, o que acontece com Isaac?
Acho que esse é o poder dos escritores, tanto do John Green quanto do fictício Peter Van Houten: deixar no ar o destino de cada personagem, reservando ao leitor o direito de imaginar o que pode ter acontecido em seguida.
Considerações finais
Obrigada, John Green, por ter escrito o primeiro livro que me fez chorar. Nunca vou esquecer aquela madrugada, em 2012, quando fiquei soluçando em silêncio, tomando cuidado pra não fazer barulho, porque um de seus livros tinha acabado de arrasar comigo (no bom sentido) de um jeito irrecuperável.
Nota 10/10
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