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Uma resenha do filme “Um lugar silencioso: dia um” — a prova de que os fins compensam os meios

Foto do escritor: Katherine CarvalhoKatherine Carvalho
Pôster do filme "Um lugar silencioso: dia um"

Todas as resenhas deste site contêm spoilers.

Se você não gosta de spoilers, a autora recomenda que feche este post e volte apenas quando já tiver assistido o filme.


● 2024

● Direção: Michael Sarnoski


Antes de começarmos, gostaria de dizer que a franquia “Um lugar silencioso” é uma das minhas favoritas e que já vi os dois primeiros filmes mais de trinta vezes (cada um). Sei de cor e salteado todas as cenas e falas, então não me julguem pelas altas expectativas que eu depositei neste filme. 


Infelizmente, elas não foram inteiramente supridas e eu fiquei, sim, um pouquinho decepcionada, então essa resenha não é 100% positiva, lamento. Mesmo assim, tem bastante spoiler — se você não gosta, o botão de fechar a janela tá logo ali em cima.

 

Primeiro um resumo de “Um lugar silencioso: dia um”


Se você já assistiu aos outros filmes da franquia, esse não vai ser novidade. Mas, se você está lendo sobre esse assunto pela primeira vez, eu te conto o que acontece: no mundo de “Um lugar silencioso”, a Terra foi invadida por seres alienígenas altamente letais, porém totalmente cegos. Eles se orientam somente pela audição. 


Ou seja, fazer barulho está fora de questão. E não é barulho tipo explosão de fogos de artifício: é qualquer barulho. Então, nos dois primeiros filmes, quase não há conversa, pois falar em voz alta atrai os monstros e a família protagonista se comunica por ASL (a língua de sinais americana), já que a filha é deficiente auditiva. 


Toda a trama gira em torno deles tentando sobreviver e tem muito mais coisa que eu poderia falar aqui, mas o foco é o último filme da franquia, lançado recentemente nos cinemas, e que já está disponível para compra e aluguel no YouTube


A história de “Um lugar silencioso: dia um” começa num hospital onde estão internados alguns pacientes terminais de câncer, inclusive a protagonista Sam, interpretada pela maravilhosa Lupita Nyong'o. Quando o enfermeiro convida todos os pacientes para um passeio até a cidade de Nova Iorque, Sam aceita a contragosto só porque quer comer pizza. 


É neste passeio que o grupo testemunha a chegada dos alienígenas à Terra. E aí começa aquele Deus nos acuda em que a gente tenta sobreviver a qualquer custo, acaba esquecendo a humanidade e começa a pisar sobre os amiguinhos e coleguinhas, porque, afinal, o que importa é sair vivo, os outros que se virem. 


Só que Sam não está interessada em sobreviver: ela quer comer pizza. E a história foca nela, na sua jornada até a pizzaria (na direção contrária da população nova iorquina que está indo ao litoral em busca das balsas que vão para as ilhas, já que os alienígenas não sabem nadar). O que Sam não previa é que teria um acompanhante: um homem desconhecido que começa a segui-la e que acaba tendo um papel muito importante na visão que Sam tem sobre a vida e a morte. 


Um jogo de câmeras ligeiramente cansativo 


Eu gosto muito da franquia de “Um lugar silencioso” porque a sequência das cenas, aliada à trilha sonora e aos efeitos visuais coloridos, é interessante e atrativa, muito bem construída (na minha percepção totalmente amadora, especialistas, não me batam). 


Já em “Um lugar silencioso: dia um”, achei que eles pecaram um pouco nesse ponto. O começo tem um ar bem monótono e o jogo de câmeras do momento da chegada dos alienígenas ficou cansativo pelo uso excessivo de slow motion e fumaça. Tudo bem, foi uma explosão, tinha muita poeira, mas as cenas poderiam ser mais curtas e mais agitadas.  


Mais pro meio do filme essa sensação de monotonia melhora muito, então esse não é um ponto negativo tão relevante assim. 


Pode falar em voz alta? 


Desculpa, mas achei o filme forçado em várias cenas. Nos dois primeiros, os personagens focam tanto em não poder falar absolutamente nada em voz alta (exceto perto de sons altos da natureza, como na cachoeira) que neste último eu fiquei sem entender nada. 


Eles conversam em muitos momentos! Na chuva, okay, os monstros não ouvem porque a chuva é mais alta, mas e no apartamento da Sam? E na igreja? São lugares que precisam de silêncio e qualquer palavra com certeza atrairia os alienígenas.


Beleza, não tem a justificativa da deficiência auditiva e os personagens, sem sombra de dúvidas, não sabem usar a língua de sinais americana, mas tem outras alternativas para se comunicar sem ser oralmente: escrevendo, por exemplo, como eles fazem em alguns momentos. Acredito que inserir os personagens falando em voz alta em tantas cenas fez com que o filme fugisse um pouco da proposta. 


O verdadeiro protagonista é o gato


Aí você pergunta: pra quê o gato? E sinceramente, eu não sei responder também, não. Talvez seja o apelo emocional que um bichano nas telas desperta no público, talvez seja porque a gente fica na expectativa do gato miar num momento crítico e esse suspense movimenta a trama, talvez seja porque eles queriam botar o gato e pronto. 


O fato é que o verdadeiro protagonista não é a Lupita — é o gato. Muito esperto, muito ágil, o gato serve de consolo para Sam em diversas situações e está sempre com ela, a despeito dos infelizes que dizem que gatos não são fiéis aos donos. 


No fim, quando ela entrega o gato para Eric, para que os dois consigam se salvar, confesso que meu coração apertou. Sam sabia que estava destinada a morrer, seja pelo câncer ou pelos alienígenas, e que o gatinho merecia uma segunda chance. E de qualquer forma, Eric vai cuidar muito bem dele. A cena final dos dois juntos na balsa é linda, linda demais. 


E a frase que eu mais falei ao longo do filme foi “cadê o gato?”, porque a minha preocupação não era com os humanos. Pra mim, só importava o gato ficar vivo. O resto é resto!  


Alguns trechos aleatórios, mas bonitos 


Estou falando da cena em que Sam e Eric finalmente conseguem comer a tão sonhada pizza e, para animar a amiga, Eric faz mágicas com um baralho encontrado num bar. É uma cena bonita, claro, emocionante, o mundo está acabando mas ele está preocupado em fazer Sam rir, mas… pra quê? 


Talvez eu tenha perdido um pouco da minha sensibilidade nos últimos dias por conta da reação causada pela vacina da gripe, tive muita febre, posso estar delirando, mas pra mim aquilo foi muito aleatório. Me perdoem pela frieza, prometo (tentar) melhorar.


O fim que compensa o meio 


Chegamos ao X da questão. Já dizia o poeta Ovídio “Os fins justificam os meios” (você pensava que era Maquiavel, né? Vai pesquisar, eu só descobri isso hoje também). Desculpa, Ovídio, vou mudar um pouco sua frase para “o fim COMPENSA o meio”, já que a última cena de “Um lugar silencioso: dia um” faz todo o resto valer a pena. 


Tanto a carta que Sam deixa para Eric ler na balsa quanto a trilha sonora tocando “Feeling good” e a sequência de imagens da protagonista caminhando sem medo pela cidade infestada de monstros, munida de um rádio conectado a fones de ouvido, formam uma combinação maravilhosa que é mais que agradável ao paladar da alma: é perfeita. 


E quando a leitura da carta termina e Sam retira o fone do rádio, deixando a música soar no volume máximo pelas ruas desertas de Nova Iorque, a gente percebe que o filme não poderia ter acabado de uma forma mais bonita. 


Ela cumpriu seu objetivo, comeu sua pizza, salvou o gato, fez amizade com alguém que ressignificou seus últimos dias de existência, e agora vai morrer de modo heroico: ouvindo sua música favorita, enfrentando os terríveis monstros, na cidade que ela reaprendeu a amar.

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4 Comments

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Guest
Sep 13, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Muito bom

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Katherine Carvalho
Katherine Carvalho
Sep 13, 2024
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Obrigada! ❤️

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Guest
Sep 13, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Ótima resenha, transmite exatamente o que senti do filme.

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Katherine Carvalho
Katherine Carvalho
Sep 13, 2024
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Aaaah que bom que tivemos a mesma percepção 😍 obrigada pelo comentário!

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Obrigada!

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