Ainda não sou mãe, mas já tenho medo.
Medo de não conseguir ser mãe, medo do meu corpo não obedecer quando eu estiver pronta pra gerar uma vida.
Se um dia eu conseguir, terei medo de perder a vida que milagrosamente consegui segurar em meu ventre. Se essa vida vingar e evoluir, terei medo pela saúde dessa criança. Terei medo se, de alguma forma, ela não vier saudável.
Se vier saudável e eu segurá-la nos braços pela primeira vez, terei medo de ela ficar doente de repente. Terei medo de ela cair do berço, de ela parar de respirar enquanto dorme, de se engasgar com o leite. Terei medo de deixá-la escorregar do meu colo.
Se nada disso acontecer, terei medo que ela tropece em seus primeiros passos e também em seu primeiro dia de escola, na primeira vez que ela chorar longe de mim.
E se tudo correr bem, terei medo quando ela perceber que é uma pessoa totalmente separada de mim, e quando ela começar a amar outras pessoas como um ser que pensa e age por si próprio. Terei medo das pessoas que vão magoá-la, machucá-la e feri-la de 100 maneiras diferentes, e terei medo do que esses sofrimentos vão fazer com ela.
Terei medo quando ela for adulta, quando tiver seu próprio emprego, sua própria família, seus próprios filhos, e terei medo também pelos filhos dela, porque sendo dela, são também um pouco meus, não?
E se a gente sobreviver a isso, eu e ela, terei medo também de eu mesma ficar doente, ou se algo horrível acontecer comigo, quem é que vai cuidar dela? Quem é que vai segurar sua mão em momentos difíceis?
Quem é que vai sentir medo por ela, senão eu?
Mas, voltando no tempo, mãe é sinônimo de sentir medo antes de gerar qualquer vida que seja. Meu ventre está vazio, meus filhos não existem.
Eu já sinto medo, e ainda não os tenho. E se quando os tiver, o medo redobrar, terei então que fazer crescer em mim um segundo coração, pois o amor terá de ser, em compensação, mil vezes maior também.