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  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Lista de coisas que eu gostaria de dizer sobre ter ansiedade

Tablet com a palavra "ansiedade" em inglês

Você sabia que eu tenho ansiedade? Não? É que eu disfarço bem. Mas agora você sabe. E eu gostaria de te dizer algumas coisas sobre ter ansiedade e, sinto muito, algumas dessas coisas não são agradáveis de se ler.


Essa lista me rasgou o peito enquanto eu escrevia, e se você também é ansioso, vai sentir seu peito sendo dilacerado da mesma forma que o meu. Sinto muito por isso também.


A ansiedade não é ficar muito animado para o fim de semana


Quem tem a mente sã vê a ansiedade de uma maneira muito distorcida. “Ah, ela tá ansiosa pelo fim de semana, é só isso”. Não, querido, não é. Nessa frase, troque o termo por “animada”, porque a ansiedade é algo totalmente diferente. 


Ansiedade se assemelha muito mais à angústia do que à animação. Esperar pelo fim de semana não é nem de longe uma tortura tão grande quanto estar ansiosa por um problema que só você considera grave, porque só existe dentro da sua cabeça. 


Ansiedade é criar cenários (im)prováveis — todos eles horríveis


A ansiedade te obriga a criar e recriar mentalmente os mais inusitados cenários — a maioria deles é horrível e te faz sofrer. Você fica imaginando todas as coisas que podem acontecer a você e às pessoas que você ama, e fica pensando nos desdobramentos de algo que sequer é real. 


Você sofre por algo que, na maioria das vezes, nem vai acontecer. Vou te dar um exemplo prático que acontece muito comigo: sou saudável, todos os meus exames de rotina estão sempre ótimos, nenhum sintoma suspeito ou queixa preocupante me incomodam. 


Mas basta um hematoma roxo surgir aparentemente do nada e minha mente já elabora todas as piores justificativas: um tumor, uma doença terminal, um mal gravíssimo que vai me levar à morte em alguns meses. 


Aí você marca um médico pra daqui duas semanas e passa essas duas semanas chorando porque, na sua cabeça, essas justificativas fazem sentido e, de todo modo, você vai mesmo morrer em alguns meses, mesmo que não haja nenhum indício concreto disso.  


Chega o dia do médico e ele te examina inteira, faz exames de sangue, e o diagnóstico é emitido: você só bateu na quina da mesa e não lembrava, daí o hematoma. E as duas semanas que você passou chorando de angústia são jogadas no lixo. 


Tanto sofrimento despropositado que poderia ter sido evitado se você simplesmente tivesse cogitado as outras hipóteses, se você tivesse pensado “hm, mas talvez seja só um machucadinho”, se você tivesse tido paciência para esperar a resposta do médico. 


E aí sua psicóloga te diz: não vale a pena sofrer por antecedência. A maior parte dos problemas só existe na nossa cabeça. Então espera. Espera pra sofrer quando realmente tiver motivo, tá bom? Tá bom, doutora. E como eu aplico isso na prática, me diz? Se na teoria é tão fácil, mas na prática o cenário mais horrível é também o que me parece mais provável? 


A ansiedade causa sintomas físicos


Às vezes você acha que tá tendo um infarto, mas é só a ansiedade mesmo. Sintomas físicos são comuns pra quem sofre desse mal, e não são sintomas simples. Eles podem muito bem se confundir com sintomas reais de doenças reais. 


Uma febre pode não ser de uma gripe. Uma alergia pode não ser dermatite. Uma dor de estômago pode não ser gastrite. Uma palpitação pode não ser infarto. É você quem tem que aprender a identificar a origem dos sintomas, e eu sei, não é nada fácil. A terapia ajuda muito nisso.   


Não dá pra ignorar a ansiedade 


“Tenta se distrair”, é o que dizem. Só que eles não sabem que a ansiedade é um bicho de sete cabeças que fica dançando na sua frente, bloqueando sua visão, exigindo sua atenção, impedindo que você se distraia com qualquer coisa que seja. 


Há maneiras, sim, de driblar essa filha da mãe. A maioria das técnicas você aprende na terapia. Respirar ajuda (embora seja bem difícil lembrar disso no calor do momento). Gelo também, e mudar o foco. 


Quando estou entrando em parafuso, eu tento me obrigar a pensar em outra coisa (qualquer coisa). A cor das paredes. O som dos pássaros lá fora. O programa que está passando na televisão. Faço isso até a sensação passar. 


A ansiedade não tem cura, mas tem tratamento


Eu não me iludo quanto a pensar que um dia não vou mais ter que conviver com essa maldita. Sei que a ansiedade não tem cura. Mas tem tratamento, e é isso que me consola. Se você ainda não achou um tratamento que funciona, o meu conselho é: continua procurando. 


Eu lamento, mas se você tem ansiedade, provavelmente vai ter que aprender a viver com ela pelo resto da vida. Queria ter te trazido uma notícia melhor, mas é que não existe uma. Mas eu juro, um dia você acaba se acostumando. 


É como ter uma visita incômoda em casa todo dia – você pede pra ela ir embora, mas ela não arreda o pé. Aí um dia, você percebe que não tem mesmo como se livrar dela, então é melhor achar um jeito de conviver bem, que depois de uns meses, ela vira até sua amiga. 


Se você é contra tomar remédio, então é melhor se acostumar à ansiedade


Nunca ouvi um diabético dizer que não quer tomar insulina. E se você ouviu, leva no médico, porque deve estar delirando. Não existe isso de “ain, mas não gosto de tomar remédio”, beleza, gosta de ficar com palpitação então? Prefere sentir um nó na garganta 24h por dia? Tá bom. Problema seu. Acostume-se com a ansiedade.


Gostar de alguém, às vezes, é um castigo 


Não me entenda mal, amar é muito bom. Mas as pessoas ansiosas têm uma maneira diferente de reagir ao amor, então gostar de alguém, às vezes, é mesmo um castigo. É que, pra nós, o amor vem sempre atrelado a outros sentimentos, geralmente ruins: medo de perder, medo do abandono, medo da rejeição, insegurança, ciúmes, possessividade.


Tudo isso está intrinsecamente conectado e é muito difícil separar uma coisa da outra. É muito difícil sentir amor sem sentir também tanta coisa ruim. E isso dói, sabe? Não é nada agradável. Por isso, quem tem ansiedade às vezes se fecha num casulo, protegendo-se do mundo, para evitar gostar de alguém. Então, entenda, se você ama um ansioso, tenha paciência. O amor dele é grande — mas o resto também é. 


As crises de ansiedade tiram o sono e o sossego do coração 


Noites tranquilas são raras pra quem tem ansiedade. É normal, pra nós, sentir o coração pesado, porque normalmente tem muita coisa pesando neles mesmo. Por isso a gente valoriza tanto dias de sol despreocupados e tardes preguiçosas de tédio. É porque raramente sentimos essa leveza, raramente temos a mente desocupada. 


Saiba que, quando isso acontece, tento segurar ao máximo esses momentos, mas sei que eles não duram para sempre. É comum eu me sentir plenamente feliz em situações totalmente aleatórias: quando estou andando de carro com as janelas abertas, o vento batendo no rosto. Quando estou dormindo, escutando a chuva cair. Quando meu gato pede colo e me sinto a pessoa mais amada do mundo. 


É nesses momentos que meu coração está leve e nada me deixa triste. É por isso que valorizo tanto momentos simples. Porque são os mais preciosos. E são também os mais fáceis de se perder. 


A ansiedade é uma prisão que nos acorrenta dentro da nossa própria mente 


Eu nunca vi o lado de fora. Sempre estive aqui, presa, acorrentada à minha própria ansiedade, acorrentada dentro de minha própria mente, subjugada pelo peso em meus ombros. Mas, assim como a gente se acostuma às visitas indesejadas, a gente se acostuma com o espaço limitado de nossa cela de prisão. Aí depois passa a chamar aquilo de casa.


Certo, ainda tem as grades, ainda tem o chão duro, ainda tem as correntes prendendo meus braços. Não dá pra ignorar, mas passa um tempo, e sabe que até que não é tão ruim assim? Acho que consigo trabalhar com isso. Posso tentar cultivar algo, de repente. 


E um dia, um belo dia, você percebe que essa cela de prisão virou terra fértil e nela agora cresce um jardim. Um dia o sol entra pela janela, a grama fica verde, até chove de vez em quando e, por que não?, flores desabrocham entre os elos das correntes.

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