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Aprendi na terapia que a tristeza é um passarinho de asas quebradas

  • Foto do escritor: Katherine Carvalho
    Katherine Carvalho
  • 24 de mar.
  • 3 min de leitura
Beija-flor voando

O que você faz quando a tristeza bate à porta? Tranca tudo, fecha as cortinas, fica bem quietinho. Finge que não tem ninguém em casa. Não te julgo – é o que eu faria. 


Mas você não ignora um animal ferido que aparece precisando de ajuda, não é? Porque foi isso que eu aprendi na terapia. A tristeza é um passarinho de asas quebradas. 


Hóspede indesejada, visita inconveniente, é isso que ela é. Mas frágil. Tão frágil quanto você, que tenta com todas as forças fazer de conta que ela não existe. Mas ela está ali. Ela precisa ser reconhecida. 


A tristeza é daquelas convidadas que, quanto mais você ignora, mais se faz presente. Ela vai ficar do lado de fora, gritando, batendo panela, tocando a campainha, exigindo atenção, até você deixá-la entrar.


Então você abre a porta. Você a vê parada ali, encolhida e assustada como um filhote de gato, mas não se engane, ela é um passarinho. Um passarinho de asas quebradas. De repente toda aquela bravura sumiu – a tristeza só quer ser acolhida. 


Então você estende a mão, deixa ela entrar. Agora, lado a lado com a tristeza, você vê que ela não parece mais tão intimidadora, talvez nem seja assim tão ruim. Afinal, por que você teria medo de um passarinho machucado, todo inofensivo?  


Talvez ela precise de cuidados tanto quanto você. E o que se faz com uma criatura doente? Você analisa os ferimentos. Uma asa quebrada aqui, um coração partido ali. Você pega um kit de primeiros socorros. Você diz que vai arder um pouquinho, mas passa logo, é necessário, é pra melhorar.


Você faz um curativo e então oferece um ombro caso ela queira chorar. Sabe como é, de todos os sentimentos, a tristeza é a que mais chora. Você deixa ela chorar. Às vezes até acaba chorando junto com ela. 


É que asas quebradas não se curam sozinhas e a tristeza não vai embora até que você tenha coragem de enfrentá-la, olhar dentro de seus olhos e dizer oi, você existe, eu sei que você está aí, entre e vamos resolver isso.


Porque a tristeza é frágil e também é teimosa. Já recebi a visita da tristeza várias vezes. Algumas duraram anos, outras duraram meses. Teve uma que durou só dois dias. Mas em todas elas eu cuidei de sua asa quebrada, eu a cobri com um edredom quentinho quando estava frio, tomei café com ela todas as manhãs. Eu a fiz se sentir em casa. 


Teve um momento que eu até achei que gostava dela. Não é a companhia mais agradável, mas depois de certo tempo de convivência, é impossível não criar algum tipo de vínculo. Mas que fique claro: é uma relação temporária.


Asas quebradas se curam e a tristeza um dia estará recuperada. Graças aos seus cuidados, em determinado dia ela se levantará do sofá, agradecerá a estadia, dirá que foi um prazer e anunciará sua partida. E você vai deixá-la ir. 


A tristeza é só um passarinho de asas quebradas. Tudo o que ela precisa é de atenção e de tempo – pra se curar das feridas, pra reencontrar a si mesma, pra poder voar de novo. E ela vai sair pela porta, deixando a casa estranhamente vazia, mas à sua saída, se segue uma nova visita. 


Uma prima, talvez. Quem sabe uma irmã. Você ouve a batida na porta e pensa que a tristeza esqueceu as chaves, mas ali fora está uma linda borboleta e você diz com alívio caramba, cheguei a pensar que você não vinha mais, mas que bom que voltou, venha, pode entrar, felicidade, e, por favor, fique à vontade.  


Um recado da autora: quando a tristeza bater à porta, deixe-a entrar


A vida é só um conjunto bagunçado de pessoas machucadas tentando se curar. Fica mais fácil quando você encara de frente seus próprios sentimentos. Então, se um passarinho aparecer à sua porta com as asas quebradas, lembre-se que ele só precisa de tempo pra se curar e poder ir embora. Só assim a felicidade vai ter espaço pra voltar.

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