top of page
  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Uma análise da música "Somewhere only we know" de Keane

Essa é uma das músicas favoritas da minha mãe, mas surpreendentemente, não foi ela que pediu para eu fazer essa análise. Um colega muito querido da faculdade, chamado Ronaldo, me disse que queria saber o que eu achava da letra de “Somewhere only we know”, do Keane, e como é uma música que eu também amo, acho que ficou mais fácil de eu analisá-la. Mas, confesso, eu nunca tinha parado pra prestar atenção no que Keane dizia (quase toda análise eu falo isso, me perdoem), e depois de finalmente refletir sobre a letra pela primeira vez, estou chocada com o que concluí. A letra é mais linda do que eu imaginava. Obrigada, Keane, por criar essa música, e obrigada, Ronaldo, por me obrigar a enxergar “Somewhere only we know” como ela realmente é.


I walked across an empty land

I knew the pathway like the back of my hand

I felt the earth beneath my feet

Sat by the river and it made me complete


Eu andei por uma terra desabitada

Eu conhecia o caminho como a palma da minha mão

Eu senti a terra sob meus pés

Sentei-me na beira do rio e me senti completo


Já na primeira estrofe, a sensação que o ouvinte tem é de paz, tranquilidade, silêncio. O eu-lírico fala sobre lugares desabitados, terra debaixo de pés descalços, rios serenos, o que me remete a paisagens desertas pouco agredidas pela mão severa do ser humano, e um homem sozinho, apreciando a natureza, meditando em sua própria companhia, sentindo-se completo tendo o som da água do rio como trilha sonora. Pode ser imaginação minha, mas quando mentalizo esse lugar, essa paisagem quase etérea, essa beleza intocada, só consigo pensar em algo fictício, ou um lugar que existe em outra realidade, outro plano, outro mundo. Porque não é possível existir, aqui na Terra, um lugar tão lindo onde eu me sinta tão bem e tão completa… como um oásis, ou, na verdade, um paraíso.


Oh, simple thing, where have you gone?

I'm getting old and I need something to rely on

So tell me when you're gonna let me in

I'm getting tired and I need somewhere to begin


Oh, simplicidade, aonde você foi?

Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiar

Então me diga quando você vai me deixar entrar

Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar


Aqui começamos a entender melhor quem é o eu-lírico e conseguimos supor qual é o “paraíso” a que ele estava se referindo na primeira estrofe. Afinal, o eu-lírico é um homem velho e já cansado, implorando por algo confiável e um lugar para (re)começar. Não seria então esse lugar, de fato, o paraíso para qual alguns de nós pensam que vão após a morte e no qual apenas os mais sortudos conseguem entrar? Não sei você, mas, se eu acreditasse em Céu e Inferno, na minha concepção, o paraíso seria um lugar bonito e tranquilo cheio de natureza tal qual o eu-lírico descreve no início (ninguém precisa de shopping e celular depois de morrer). Então talvez o eu-lírico esteja à beira da morte, o destino de todas as pessoas que envelhecem, e já esteja pensando no lugar para o qual vai depois.


I came across a fallen tree

I felt the branches of it looking at me

Is this the place we used to love?

Is this the place that I've been dreaming of?


Eu me deparei com uma árvore caída

Eu senti seus galhos olhando para mim

Esse o lugar que costumávamos amar?

Esse é o lugar com o qual tenho sonhado?


A terceira estrofe me traz a sensação de que o eu-lírico já chegou ao paraíso, mas tendo encontrado uma árvore caída (sinal de tragédia, tempestade, raios, ou seja, coisas ruins, maus presságios) com seus galhos olhando para ele, começa a perceber que talvez o paraíso não seja exatamente como ele havia imaginado antes de morrer. Quem sabe o eu-lírico não esteja um tanto decepcionado quando diz “era esse o lugar que costumávamos amar? É esse o lugar com o qual eu tenho sonhado?”, como se o paraíso não correspondesse às suas expectativas. Vivemos todos na esperança de que, quando morrermos, a visão do paraíso não nos decepcione. Afinal, ninguém sabe como é o Céu até ter de fato entrado nele, e ninguém sabe o que acontece depois da vida até ter, de fato, morrido.


Oh, simple thing, where have you gone

I'm getting old and I need something to rely on

So tell me when you're gonna let me in

I'm getting tired and I need somewhere to begin


Oh, simplicidade, aonde você foi?

Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiar

Então me diga quando você vai me deixar entrar

Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar


A repetição do refrão se dá no momento perfeito: quando o eu-lírico viu o verdadeiro paraíso com árvores partidas e galhos secos, e agora que já morreu, percebe que não há nada depois dali, é o ponto final, o fim da linha, a última página, não há epílogo, não há pós-créditos, e ele parece gritar, implorando que alguém o deixe entrar, como se ali já não fosse exatamente onde ele deveria estar, e implorando que alguém o dê algo em que confiar.


And if you have a minute why don't we go

Talk about it somewhere only we know?

This could be the end of everything

So why don't we go

Somewhere only we know?

(Somewhere only we know)


E se você tiver um minuto, por que nós não vamos

Falar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?

Isso pode ser o final de tudo

Então, por que nós não vamos

Para um lugar que só nós conhecemos?

Um lugar que só nós conhecemos


Caminhando para o encerramento da música, o eu-lírico apresenta um outro ponto de vista. Ao meu ver, ele está falando com alguém, convidando alguém a ir para o paraíso com ele, para ir a um lugar que só os dois conhecem. Seria uma amada que ele deixou para trás ao morrer? Seria alguém de quem ele sente saudade? O fato é que nunca saberemos, mas deve mesmo ser muito triste estar num paraíso não tão bonito assim, sozinho, sem companhia. Eu particularmente, preferia o cenário do início, com o rio e a terra sob os pés descalços. No terceiro verso, o eu-lírico finalmente se dá conta de que aquilo é o fim de tudo e parece se conformar com o fato de que não há nada depois, estamos aqui, é só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte.


Oh, simple thing, where have you gone?

I'm getting old and I need something to rely on

So tell me when you gonna let me in

I'm getting tired and I need somewhere to begin


Oh, simplicidade, aonde você foi?

Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiar

Então me diga quando você vai me deixar entrar

Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar


And if you have a minute why don't we go

Talk about it somewhere only we know?

This could be the end of everything

So why don't we go

So why don't we go


E se você tiver um minuto, por que nós não vamos

Falar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?

Isso pode ser o final de tudo

Então, por que nós não vamos?

Então, por que nós não vamos?


This could be the end of everything

So why don't we go

Somewhere only we know?

Somewhere only we know?

Somewhere only we know?


Isso pode ser o final de tudo

Então, por que nós não vamos

Para um lugar que só nós conhecemos?

Um lugar que só nós conhecemos

Um lugar que só nós conhecemos


Embora a música no geral tenha um sentido um tanto sombrio ao sugerir que o paraíso pode não ser como a gente espera, eu interpreto “Somewhere only we know” com uma energia de esperança e consolo para aqueles que morrem, que estão morrendo, ou principalmente, para aqueles que já perderam ou que estão prestes a perder alguém. Porque, apesar de não estar mais aqui, quem quer que seja estará bem, não perto, mas lá, no final de tudo, em algum lugar que só nós conhecemos.

Posts recentes

Ver tudo

Obrigada!

gulfer-ergin-LUGuCtvlk1Q-unsplash.jpg

Explore

Visite minha loja na Amazon e conheça meus contos, crônicas e livros

Por Katherine Carvalho

bottom of page