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  • Foto do escritorKatherine Carvalho

Uma análise da música "Last Kiss" do Pearl Jam

Antes de iniciar a leitura desta análise, saiba que eu nunca tinha ouvido nenhuma música do Pearl Jam. Meu único contato com essa banda foi no Lollapalooza de 2018, em que eu fui exclusivamente para ver Imagine Dragons pela primeira vez ao vivo. Ao fim do show, meu cunhado quis dar uma passada no palco ao lado, onde, vejam só, o Pearl Jam se apresentava. Mas eu estava tão focada em Imagine Dragons que não lembro nem de ter ouvido um som sequer da música do palco ao lado. Sinto muito.


Mas recentemente uma pessoa especial disse que gostava das minhas análises e pediu que eu fizesse uma dessa música aqui deles. Então, atendendo a pedidos… uma análise da música "Last Kiss" do Pearl Jam:

Oh where, oh where can my baby be?

The Lord took her away from me

She's gone to heaven, so I got to be good

So I can see my baby when I leave this world


Oh onde, onde estará o meu amor?

O Senhor a tirou de mim

Ela foi pro céu, então tenho que ser bonzinho

Assim eu poderei ver o meu amor quando deixar este mundo


Na primeira estrofe, já conseguimos captar claramente quem são os dois personagens principais da canção. Um homem, aqui na terra, está lamentando a perda de sua amada, que obviamente morreu, pois Deus a levou embora, e agora se encontra no céu, morada irremediável dos mortos. Há algo de estranho, porém, na frase “tenho que ser bonzinho, assim poderei ver o meu amor quando deixar este mundo” — como se fosse um tremendo esforço ser uma pessoa boa, ou como se houvesse a possibilidade de o homem não ir para o céu. Seria ele, então, uma má pessoa? Se sim, por quê?


We were out on a date in my daddy's car

We hadn't driven very far

There in the road, straight up ahead

A car was stalled, the engine was dead

I couldn't stop, so I swerved to the right

I'll never forget the sound that night

The screaming tires, the busting glass

The painful scream that I heard last


Nós saímos para namorar no carro do meu pai

Não fomos muito longe

Lá na estrada, bem lá na frente

Um carro estava parado, o motor estava morto

Não pude parar, então desviei pela direita

Nunca esquecerei o som daquela noite

Pneus cantando, os vidros estourando

O grito de dor que ouvi por último


Aqui, já conseguimos visualizar melhor a cena. O ouvinte se confronta com a causa da morte da mulher: um acidente de carro. O casal estava num carro emprestado quando o homem, que conduzia o veículo, perdeu o controle da direção. Talvez seja por isso que ele se sente uma pessoa ruim e não merecedor do paraíso — ele se culpa pela morte da amada, o que é infundado, já que acidentes nem sempre possuem responsáveis ou culpados, nem sempre podem sequer ser evitados. Mas é a sina de quem sobrevive: conviver com a solidão, lidar com a perda e se sentir eternamente culpado por algo que, de uma forma ou de outra, não foi culpa sua.


Oh where, oh where can my baby be?

The Lord took her away from me

She's gone to heaven, so I got to be good

So I can see my baby when I leave this world


Oh onde, onde estará o meu amor?

O Senhor a tirou de mim

Ela foi pro céu, então tenho que ser bonzinho

Assim eu poderei ver o meu amor quando deixar este mundo


A repetição da estrofe, pra mim, funciona como uma pausa na tragédia, aquele breve momento em que o tempo fica suspenso e os protagonistas levam alguns microssegundos para se situar. Em algum filme, esse momento seria pontuado pelo silêncio e pelas imagens em câmera lenta que mostrariam os estilhaços do vidro despedaçado e a fumaça do motor lentamente subindo em direção ao céu. Também funciona como o instante, logo após um desastre, em que a gente se dá conta do que realmente aconteceu, como quando a ficha cai inapelavelmente dentro da máquina, para nunca mais retornar.


When I woke up, the rain was pouring down

There were people standing all around

Something warm running through my eyes

But somehow I found my baby that night

I lifted her head, she looked at me and said

Hold me, darling, just a little while

I held her close, I kissed her, our last kiss

I found the love that I knew I would miss

But now she's gone, even though I hold her tight

I lost my love, my life that night


Quando acordei, a chuva caía

Havia muita gente em volta

Algo quente escorreu pelos meus olhos

Mas, de alguma forma, encontrei meu amor naquela noite

Levantei sua cabeça, ela me olhou e disse

Me abrace, querido, só por um tempo

Eu a abracei forte e a beijei, nosso último beijo

Encontrei o amor que sabia que havia perdido

Bem, agora ela se foi, mesmo tendo abraçado-a com força

Perdi meu amor, minha vida, naquela noite


Oh where, oh where can my baby be?

The Lord took her away from me

She's gone to heaven, so I got to be good

So I can see my baby when I leave this world


Oh onde, onde estará o meu amor?

O Senhor a tirou de mim

Ela foi pro céu, então tenho que ser bonzinho

Assim eu poderei ver o meu amor quando deixar este mundo


Essa estrofe me dá a impressão de que o homem está acordando dentro do carro destruído, logo após o acidente, ainda desorientado, extremamente machucado. Ele provavelmente desmaiou com o impacto, e enquanto estava inconsciente, muita gente veio ver o que tinha acontecido — a primeira coisa que a gente faz quando ouve algum barulho, não é? Tudo indica que o que escorre entre seus olhos é sangue, e que no meio daquele desastre, ele consegue encontrar sua amada. E a surpresa: ela ainda não morreu. Ela permanece viva tempo suficiente para fazer a ele um último pedido e para obrigá-lo a assistir a sua morte poucos momentos depois, não sem antes trocar um último beijo. Ora, eis aí a origem do nome da música — o que a gente pensava ser um ato romântico nos primeiros acordes musicais é, na verdade, uma despedida trágica. Um último beijo para selar a morte que está por vir. Nos últimos versos da estrofe, conseguimos sentir o puro arrependimento e a agonia do protagonista por não ter conseguido impedir a morte de sua amada, mesmo abraçando-a forte, e ainda mais, por ser ele quem conduzia o veículo que resultou naquele acidente fatal. Incrível como uma única noite pode mudar o destino de tantas pessoas num piscar de olhos. Ou, mais precisamente, num simples derrapar de pneus.

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Por Katherine Carvalho

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