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  • Foto do escritorKatherine Carvalho

É ensurdecedor o som da voz que se cala

Estamos tão acostumados a escutar as vozes exaltadas que se rebelam que nem sequer percebemos o quão ensurdecedor é o som da voz que se cala. Porque barulho vai além do palpável, que machuca os tímpanos, que nos obriga a tapar os ouvidos. Barulho é tudo aquilo que grita, que vibra e também que cala.


Barulho é tudo aquilo que reverbera, por dentro, por fora, em volta. A voz que se cala não grita, mas cresce, e crescendo, chega uma hora que explode. Estamos acostumados a escutar o barulho que faz estardalhaço, que faz bagunça, que chega tirando tudo do lugar e jogando as coisas pro alto, e ninguém ouve o barulho que se move em silêncio, que agita as águas lá nas profundezas — ninguém percebe que o movimento que agita o fundo do mar uma hora chega à superfície e se transforma numa tsunami.


É ensurdecedor o som da voz que se cala, porque se calou por muito tempo, e quem cala, de repente quer gritar — e grita mais alto do que quem grita todos os dias, porque as cordas vocais foram poupadas, porque lhe foi poupada também energia e fôlego. Foi-lhe poupada muita raiva, e raiva represada resulta em catástrofe.


Por isso, não deixe de escutar as vozes que gritam, porque elas dizem coisas que a gente precisa ouvir. Mas ouça também as vozes que se calam, que se escondem nas sombras, que têm medo de se pronunciar, porque por mais que permaneçam ocultas por algum tempo, vai chegar um momento, e este momento está mais perto do que você imagina, em que elas vão gritar, porque é inevitável, e não restará, no mundo todo, nenhum vidro inteiro intacto, pois todos estarão estilhaçados, feitos em pedaços.

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Por Katherine Carvalho

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